Tatá Werneck e Whindersson Nunes: quando foi que o brasileiro virou tão cruel?

Tatá Werneck e Whindersson Nunes lidaram com o hater online na última semana (Foto: Instagram / Tata Werneck)
Tatá Werneck e Whindersson Nunes lidaram com o hater online na última semana (Foto: Instagram / Tata Werneck)

Em 6 de maio deste ano, amigos e familiares se despediam de Paulo Gustavo, que morreu por complicações do COVID 19. Dentre os presentes, a apresentadora e comediante Tatá Werneck que, em tempos de pandemia, foi à casa de cremação com duas máscaras, face shield, e com um spray desinfetante em mãos. As fotos rodaram a internet e, infelizmente, viralizaram. O motivo? O "look" de Tatá para a ocasião. Naquele momento, ficou claro que a falta de empatia já está mais do que enraizada por aqui - virou quase o lugar do comum do brasileiro.

A relação tóxica de Tatá com a internet ficou clara quando, ao pedir por orações para Paulo, ainda em estado grave no hospital, recebeu como resposta um tuíte que, se ainda não estivesse na rede, pareceria uma piada de mau gosto: "Para de se preocupar com essas coisas Tatá. Puxa mutirão pra Juliette, o importante é fazer ela campeã. As torcidas vizinhas tão puxando mutirão pro Fiuk". Pois é. Diante da preocupação da atriz com o amigo internado, a resposta de um usuário, seja fake ou não, foi responder sobre o mutirão de votos para a final do BBB 21.

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Depois da cerimônia de cremação, a situação escalonou. Tatá precisou lidar com uma série de críticas que diziam que ela era exagerada por usar tantos aparatos para ir a uma ocasião como aquela. A comediante, sempre tão alegre e com a piada na ponta da língua para divertir os seguidores online, teve que lidar com a perda do amigo ao mesmo tempo em que recebia uma enxurrada de críticas.

O que mais doeu (para quem vê de fora com um mínimo de empatia) foram os comentários de que Tatá tentava chamar atenção. Importante lembrar que ela estava numa cerimônia de cremação. Quem, em sã consciência, em luto por um amigo próximo, quer chamar atenção em uma cerimônia de cremação? Pois é.

Outro ponto: Tatá estava - e ainda está - em isolamento social por conta da pandemia de coronavírus, que ainda não acabou - por mais que muita gente pense o contrário. No Brasil, os mortos já passam de 422 mil e a possibilidade de cada uma dessas pessoas ter uma família ou amigos próximos é grande. Como Tatá, eles também lidam com o luto. Não como ela, porém, fazem isso no anonimato, sem precisar lidar com a crueldade do internauta moderno.

Não é ilusão acreditar que, certa feita, as redes sociais foram criadas com o objetivo de conectar as pessoas, deixá-las mais próximas umas das outras. E, vamos combinar, isso de fato aconteceu. Mas, em casos como esse, podemos ver que esse avanço trouxe consigo um lado triste, a desumanização do online. Do outro lado do meu tuíte não tem uma pessoa, são tudo dados, retuítes, likes, respostas, virais. No entanto, quando estamos longe, fisicamente, daqueles que amamos, quando vemos nossas liberdades limitadas por conta de uma doença com vacina - importante notar - por conta de má administração e gestão de recursos, a internet é o nosso único ponto de contato e ela pode, sim, ser uma fonte de conforto.

Mas não foi o caso com Tatá. Enlutada, ela foi ao Twitter em busca de suporte, de acolhimento e de carinho. Recebeu pedradas em troca e anunciou que deixaria a rede por um tempo. Com razão. O luto já é pesado demais para somar ainda a raiva de quem perdeu a empatia.

Se ainda não ficou claro, é importante reforçar que a pandemia de coronavírus não acabou. A média móvel de mortes diárias continua alta e o uso de máscara e álcool gel, além do distanciamento social, ainda são essenciais para garantir que o sistema de saúde não se sobrecarregue ainda mais. De fato, é visível que vivemos uma situação em que o cansaço já passou qualquer limite, mas a vigilância ainda precisa ser constante. Essa atenção, no entanto, tem que ser primeiro consigo mesmo e com as próprias ações, antes de considerar a possibilidade de criticar alguém na internet por ser zeloso "demais".

Falando em empatia… e Whindersson Nunes, hein?

Como a internet não para nunca, na madrugada dessa terça-feira (11), Whindersson Nunes virou um dos assuntos mais comentados do Twitter (de novo) por conta de um desentendimento envolvendo a ex-mulher do comediante Luísa Sonza. Os pormenores da história não são o foco aqui, mas o que nos chamou a atenção é como aqueles que se dizem fãs conseguem ultrapassar limites sem pensar duas vezes. Isso porque Whindersson comentou como sua noiva, Maria Lina, grávida do primeiro bebê do casal, estava recebendo ódio gratuitamente nas redes sociais por conta de toda a história. Alguns usuários até disseram que esperavam que ela perdesse o bebê.

E, aí, a pergunta: o que essa criança fez de tão errado para receber esse tipo de ódio antes mesmo de nascer? Com que cabeça Maria Lina vai entrar em trabalho de parto? E Whindersson, como ele vai lidar com o começo da paternidade tendo que, ao mesmo tempo, ver todo tipo de absurdo sendo falado sobre ele e sua família online? E quanto à Luísa? O que dizer dela e dos ataques que ela e o namorado, Vitão, têm sofrido o tempo inteiro? Quem é que merece esse tipo de interação raivosa cotidianamente?

A justificativa que pessoas públicas "precisam saber lidar com isso" já não cola mais. A falta de compreensão também. Já não é novidade que o que vemos nas redes sociais é apenas um recorte da vida de uma pessoa, e julgar alguém por meias verdades retiradas de um perfil no Instagram não chega a ser inocência, é pura ignorância. E todos somos meio ignorantes vez ou outra. A empatia reside em assumir essa ignorância pelo o que ela é: o não conhecimento dos fatos, e buscar compreender. Cada um vive uma pandemia própria, e não há como negar que o que precisamos agora é de união em nome do que realmente importa e não haterismo contra pessoas que, sim, são passíveis de erro, sentem medo, sofrem com o luto e estão buscando uma vida mais feliz, à sua maneira.

Estamos todos cansados? Sim, estamos. Mas isso não significa que precisamos ser cruéis sem motivo. O mundo é volátil e tudo muda muito rápido por aqui, nada mais justo do que buscar entender que todos estamos procurando a melhor maneira de navegar num mar indomável. O mínimo que podemos fazer é oferecer um pouco de empatia para quem acompanhamos, virtualmente ou fisicamente, nesse constante mudar da maré.