Rock in Rio e política? Documentário mostra que público do festival sempre se posicionou
Resumo da Notícia:
Rock in Rio acontece desde 1985 e estreou no dia da eleição de Tancredo Neves
O documentário mostra as edições do festival em paralelo ao cenário nacional
O evento acontece em 2022 na semana do bicentenário da Independência do Brasil
Quem já está em contagem regressiva para assistir aos shows do Rock In Rio 2022 pode aquecer os motores assistindo a nova série documental do Globoplay. “Rock in Rio – A História” está disponível na plataforma de streaming e o Yahoo te conta tudo.
Buscando emocionar o espectador, a série dirigida por Patrícia Guimarães cumpre seu papel. Com vídeos de shows desde a primeira edição, em 1985, o espectador consegue se conectar com artistas icônicos como Freddie Mercury e Axl Rose e Slash, do Guns N Roses.
Mas um ponto chama a atenção logo de saída: a política. A série costura as edições do festival com os momentos em que o Brasil e o Rio de Janeiro viviam, como os últimos anos da ditadura militar e eleição indireta de Tancredo Neves. A ‘votação’ aconteceu no primeiro dia do evento naquele ano.
Os presentes na enlameada Cidade do Rock, na Barra da Tijuca, bradavam por uma redemocratização após os horrores da ditadura militar e a possível eleição de Tancredo trazia um ar de esperança ao país. A bandeira do Brasil, em diversos tamanhos, era item comum.
Lulu Santos, que esteve no Palco Mundo naquele cenário, gostou de se ver como parte da história do país. “Estava tudo ali. A perspectiva histórica dá uma leitura do que aconteceu com aquela plateia assistindo. Aplaudir em cena aberta, bateu neles a verdade do que aquilo era pra mim e pra todo mundo que estava assistindo”, revelou.
O documentário mostra Lulu Santos, que sempre se impôs contra a ditadura e o regime de direita que governava o Brasil, cantando “Tempos Modernos”. “Eu vejo a vida melhor no futuro/Eu vejo isso por cima de um muro/De hipocrisia que insiste em me rodear”, diz a canção tocada em meio a cenas políticas.
O artista completa: “Hoje, visto com a perspectiva histórica, a canção e eu falando daquele jeito ganhou outro significado. Fiquei com uma sensação de [pertencer a] história.”
A história nas edições seguintes
A redemocratização chegava ao país, mas impasses políticos e econômicos só permitiram a volta do evento em 1991, no Maracanã. Com Guns N’ Roses e Queen no line-up, a guerra do Kwait havia começado e, na plateia, pedidos de paz. O pleito também foi visto em 2001, quando a terceira edição do festival começou. Nela aconteceu a cena icônica de Carlinhos Brown sendo alvo de garrafas pet enquanto segurava um cartaz que dizia “Paz no Mundo”.
Na edição de 2017, o festival começava com um dos dias mais violentos da história do Rio de Janeiro. Durante a madrugada e manhã do dia 17 de setembro, as forças policiais e militares travavam uma guerra em várias regiões da cidade contra o crime organizado. De novo, os protestos estavam na plateia.
Quanto à última edição do evento no Brasil, que aconteceu em 2019, as críticas políticas estavam entre os fãs e nos palcos. Lelê homenageou a vereadora Marielle Franco, assassinada no ano anterior, e a cantora Elza Soares fez um show cheio de representatividade.
Em uma das áreas do Parque Olímpico, onde o evento é realizado desde 2017, era inaugurado o Espaço Favela, um palco que tem a prerrogativa de dar visibilidade para ritmos que não costumavam ter espaço nos palcos maiores, como funk, rap e trap.
E agora?
Em 2022, o Rock in Rio acontecerá em dois finais de semanas agitados para a política brasileira: entre a comemoração do bicentenário da independência. Além da data, o primeiro dia de evento acontecerá após os primeiros debates presidenciais e a exatos 30 dias da eleição.
Nos últimos meses, em diversos festivais pelo Brasil, o público e artistas têm usado o palco para se posicionar, em sua maioria, a favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e contra o atual presidente Jair Bolsonaro. Mas para a organização, o evento não é melhor lugar para se discutir temas tão urgentes para o povo.
Luis Justo, CEO do evento, reforçou que a polarização não é o espírito do evento. “O Rock in Rio tem uma história de paz e é isso que vai acontecer. É o que a gente acredita. O evento não se posiciona politicamente. O Rock in Rio sempre foi o lugar dos encontros, né? Dos diferentes, não de polaridade. Então, esse é o Rock In Rio, mas é o Rock in Rio de paz”, conclui.