'Sem anistia' e 'Fora Lula': protestos de deputados e senadores reforçam polarização no começo da legislatura
Enquanto Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) reforçaram do púlpito da Câmara e do Senado a necessidade de pacificação da política, a movimentação nos bastidores da posse dos novos parlamentares no Congresso Nacional deixou claro que a tarefa não será tão fácil. Protestos, tanto da direita quando da esquerda, marcaram o primeiro dia da nova legislatura.
Em meio às articulações para a disputa do comando das duas Casas, deputados e senadores aproveitaram o primeiro dia para deixarem claro o que poderá vir pela frente: de protestos contra o presidente Lula à exigência da punição a golpistas, congressistas de direita e esquerda não só tomaram posse, mas deixaram o recado de como atuarão nos próximos anos.
De um lado, os integrantes do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, chegaram ao plenário da Câmara com adesivos contra o governo Lula. Candidato mais votado nas últimas eleições, Nikolas Ferreira (PL-MG) foi um dos que chegou à Câmara com uma placa com os dizeres “Fora, Lula!”.
Do outro, parlamentares próximos do atual governo, como Guilherme Boulos (PSOL-SP), levaram placas com dizeres como “Fazer os fascistas temerem novamente!”. Nas suas redes sociais, o deputado do PSOL publicou uma imagem sua em frente ao seu carro, um Celta. O automóvel é recorrentemente citado pelo congressista como sinal de desapego.
O primeiro dia da nova legislatura também foi um momento de encontro das duas principais figuras da Operação Lava-Jato: no Senado, o ex-juiz Sergio Moro tomou posse, enquanto na Câmara dos Deputados o ex-procurador Deltan Dallagnol assumiu o cargo. Os dois tiraram uma foto no Plenário ao lado de Rosangela Moro, esposa do ex-ministro do governo Bolsonaro, também eleita para a Câmara dos Deputados.
Ao todo, 22 senadores “novatos” assumiram o cargo, enquanto na Câmara foram 202 eleitos pela primeira vez. Foi a primeira vez, por exemplo, do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello (PL-RJ), como deputado, e também de Erika Hilton (PSOL-SP), uma das duas primeiras deputadas trans na história do Congresso.
— Sem sombra de dúvida defender os direitos humanos, defender o enfrentamento contra a fome, a pobreza, o desmonte da educação. Serão algumas das minhas principais pautas para este mandato — afirmou em vídeo a deputada.
Entretanto, algumas figurinhas carimbadas também deram as caras no Salão Verde e no Plenário. Ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acompanhou sua filha, a deputada federal Danielle Cunha (União-RJ), uma das recém-chegadas.
— Emocionante voltar para a posse da minha filha — disse Cunha, que também foi candidato, mas não foi eleito.
Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa Econômica Federal, acompanha na tarde de hoje a sessão do Senado que deu posse a 27 novos parlamentares e vai definir o comando da Casa pelos próximos dois anos. Guimarães declarou que veio prestigiar a posse de "todos aqueles que apoiam o presidente Bolsonaro". Perguntado sobre quem o convidou, ele respondeu: "vários". Guimarães foi demitido do comando da Caixa em junho após denúncias de assédio por funcionárias do banco.
Foi dia também dos novos deputados e deputadas conhecerem seus gabinetes e muitos deles já começaram a decoração. Uma delas, a deputada Ana Paula Lima (PT-SC), levou uma bandeira da secretaria de Mulheres do PT. Eleito pelo PSOL, Tarcísio Motta, do Rio de Janeiro, levou uma bandeira do Vasco da Gama. Os dois postaram a chegada nas redes sociais, assim como o ex-jogador de vôlei, Maurício Souza. Bolsonarista, ele publicou foto com a sua família no seu novo gabinete.
— Hoje daremos o primeiro passo de uma longa e duríssima jornada — escreveu.
A chegada dos novos deputados e senadores foi marcada pela articulação em busca de votos para as eleições da Mesa das duas Casas. No Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) foi o eleito, com 49 dos 81 votos, enquanto na Câmara dos Deputados o deputado Arthur Lira também foi reconduzido, com 464 votos. Mas deputados e senadores também fizeram campanha pelos outros cargos em disputa, inclusive com campanha para a votação por uma vaga no Tribunal de Contas da União, que deverá ocorrer amanhã.
Ex-líder da bancada evangélica, por exemplo, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) teve a disputa de um colega de bancada, Luciano Vieira, pela posição de segundo vice-presidente da Casa. Para ser escolhido, fez campanha junto a petistas, com direito a adesivo em defesa da deputada Maria do Rosário (PT-RS), que disputava a 2ª Secretaria da Câmara.
— Queria dizer que vou votar na Maria do Rosário, cumprindo o acordo. Então, estou pedindo o voto também para ser escolhido — disse o parlamentar a um deputado petista enquanto caminhava pelos corredores da Casa.