Rafa Kalimann: entenda a relação entre crises de ansiedade, privacidade e sensação de segurança
Há algumas semanas, a ex-BBB Rafa Kalimann usou as redes sociais para explicar como teve uma crise de ansiedade ao saber que o condomínio onde mora foi invadido mais de uma vez por estranhos que queriam "espiar" a sua casa.
As duas coisas - as crises de ansiedade e a invasão de privacidade -, têm relação, claro. Afinal, se antes de participar do programa Rafa podia entrar e sair da própria casa sem esperar que alguém estivesse espionando a sua vida pelo portão, agora ela percebeu que isso já não é possível - e chegou a comentar que essa invasão estava afetando a vida de sua família, com quem divide o imóvel.
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Aliás, estamos em um momento em que, infelizmente, as crises de ansiedade estão em alta. Segundo a Dra. Renata Isa Santoro, especialista em medicina integrativa, elas acontecem quando não podemos mais controlar os acontecimentos da nossa vida e sofremos pelo futuro que está por vir. "É uma grande preocupação com o futuro, um medo desproporcional. O corpo responde à essa situação causando falta de ar, dores no peito, taquicardia, enjoo, tontura, tremedeiras e sudorese".
Uma crise de ansiedade pode ser desencadeada por muitos motivos, seja um evento pontual (como uma apresentação importante no trabalho, por exemplo), ou um trauma que se reflete no emocional de alguém a longo prazo.
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"O ser humano aprende desde cedo que é necessário tomar controle dos acontecimentos da sua vida, impõe regras e, assim, espera que tudo o que ele escolhe obtenha um resultado previsto. Porém, isso é uma ilusão, gera extrema expectativa e quando acontece algo que a pessoa esperava, não se sente confiante em controlar e não sabe o que pode acontecer, o corpo cria vias de estresse e medo. Ansiedade é esperar o futuro, é viver no futuro, é achar que algo ruim vai acontecer e que é preciso se precaver, se proteger", explica a médica.
Crises de ansiedade e sensação de segurança
Uma coisa é certa, as crises de ansiedade têm tudo a ver com a nossa sensação de controle e segurança. No caso de Rafa, isso ficou muito claro: a sua casa, um lugar considerado extremamente seguro, é invadido por estranhos e isso abala a sua expectativa de que, ali dentro, ela está segura.
"Nós nos sentimos seguros quando sabemos que estamos livre de perigo. Parece óbvio, mas no cotidiano isso fica mais complexo. Às vezes o perigo pode ser o chefe que está na sua cola, um relacionamento que você gosta muito, mas sente que vai mal, uma prova pela qual você precisa passar e não se sente suficientemente preparado...", explica o psicanalista Ronaldo Coelho.
Ou seja, entendemos que a sensação de segurança varia de pessoa para pessoa - alguém que se sente seguro e confiante no trabalho pode não ter a mesma sensação dentro de casa e vice-versa. Isso sem contar eventos pontuais, como um assalto de rua ou um ataque de um animal que podem gerar gatilhos mentais de medo e insegurança.
Por exemplo, uma pessoa que acaricia um gatinho, mas recebe um ataque como resposta pode desenvolver um medo de acariciar esse ou outros gatos dali para a frente, uma resposta do cérebro a uma ameaça pontual. Mesmo que o segundo gatinho seja muito manso, a pessoa pode se aproximar dele com muito mais cautela do que o necessário ou, dependendo do nível do trauma, preferir manter distância.
"Não existe segurança absoluta, porém podemos nos sentir seguros quando estamos num ambiente que nos sentimos acolhidos, com pessoas que nos relacionamos bem", explica a Dra. Renata.
Rafa não é a primeira celebridade a falar sobre crises de ansiedade. No ano passado, Mariana Santos abriu o jogo sobre as crises de pânico com as quais lida há tempos. Cleo também já tocou no assunto e contou que deixou de embarcar em um avião, certa vez, por conta de uma crise. Thammy Miranda chegou a comentar também que ficou quase 3 meses sem sair de casa por conta do medo agudo que sentia de que algo poderia acontecer.
Quando falamos em casos como esses, lidamos também com a questão da privacidade. Para uma celebridade, ela parece inexistente, mas todo mundo sabe que isso não é verdade e que é algo prezado até mesmo por pessoas comuns, que não necessariamente expõe a sua vida na internet ou na televisão.
"A privacidade é algo individual e que deve ser respeitada, uns tem maior necessidade de privacidade do que outros mas todas as pessoas necessitam de bom senso e limites para não interferir no bem-estar do próximo, é uma questão de consciência e de compaixão. O que é normal para você pode ser tenebroso para o outro. Quando esses limites são ultrapassados seja na vida familiar ou pública pode trazer sensações de irritabilidade, insegurança, vulnerabilidade e medo, pois ficamos em estado de alerta o tempo todo e não sabemos onde o outro pode chegar", diz a médica.
É por isso que quebrar esses vínculos de privacidade - como invadir o condomínio de alguém por uma foto ou interromper uma rotina de trabalho constantemente -, pode desencadear sentimentos de ansiedade e, consequentemente, uma crise séria.
É possível evitar ou reverter crises de ansiedade?
Mais do que entender o que são crises de ansiedade, é importante saber como lidar com elas e até mesmo como evitá-las. É sempre bom reforçar que, caso você esteja passando por crises de ansiedade, pode buscar ajuda profissional para saber o melhor curso de ação.
"É possível evitar as crises, porém não existe receita de bolo", explica Ronaldo. "O mais indicado é a terapia, pois trata-se de pensar todos os elementos que podem estar causando essa sensação de perigo."
É essencial também começar a observar as situações que geram crises e de que forma você pode ressignificar o momento para evitar entrar em uma espiral de medo. Ter à mão exercícios de relaxamento e respiração podem ajudar nesses momentos, assim como não hesitar em explicar para as pessoas envolvidas as suas dificuldades e pedir um tempo para se recompor - por exemplo, no caso de você precisar fazer uma apresentação ou palestra.
"Existem muitas técnicas que abordam a ansiedade de uma forma integrada tratando as emoções que levaram ao seu aparecimento, reduzindo assim a intensidade e o número das crises. Técnicas de respiração, terapia floral e práticas de meditação, mindfulness ou yoga são excelentes neste contexto, exercícios físicos também levam a redução importante das crises. Conversar com um terapeuta ou médico pode ajudar na abordagem completa desse distúrbio", diz a Dra. Renata.
Além disso, vale a pena também trabalhar a sua sensação de segurança interna, buscando apoio em amigos próximos ou familiares e gerando uma rede de segurança para momentos de dificuldade, e procurar cuidar dos seus ambientes, como casa e trabalho, para estimularem a sensação de aconchego.
Ao mesmo tempo, é essencial lembrar de que as coisas não se mantém sob o nosso controle o tempo inteiro e que tudo pode não sair como o planejado. Buscar fortalecer a sua musculatura emocional, aprendendo a lidar com frustrações também faz parte desse treino. Para isso, ter o acompanhamento de um profissional da saúde mental é fundamental.
"Estar seguro tem a ver com a preparação para a possibilidade de tudo dar errado. Há uma dimensão cognitiva, da construção de recursos, o chamado plano B, mas também tem todo um processo de aprender a lidar com frustração, rejeição, abandono... Para lidar com a frustração vale pensar que ela é um peso que temos que tirar de cima da gente quando nos acomete. Se não temos uma musculatura fortalecida, esse peso nos arrebata", finaliza Ronaldo.