"Quando você está preso, está enterrado vivo", desabafa Rennan da Penha
O DJ Rennan da Penha não pulou nenhum tópico sobre a sua prisão em 2016 e 2019, quando foi acusado de associação ao tráfico de drogas. Convidado do Yahoo Entrevista desta semana, o cantor falou sobre o período que ficou em cárcere e criticou a justiça brasileira.
“Todo mundo sabe que tem um vídeo meu apertando a mão de um dos traficantes lá da comunidade. Eu morava ainda na comunidade naquela época, vou passar pelo cara e não vou falar? Aquele cara está lá até hoje e quem foi preso fui eu”, explica.
Rennan conta que quando foi preso pela primeira vez, no início ele nem sabia da situação envolvendo seu nome. Como não devia nada para a justiça, continuou seguindo sua vida, mesmo foragido.
“Meu filho tinha nascido dia 19 de setembro, passou uma semana e teve uma operação lá no morro. 'Tu está sendo procurado!', minha foto estava num monte de fotinhos, parecia foto de identidade. Um montão de pessoas sendo procuradas. No meu caso, meu mandato saiu em 2015, fiquei foragido até 2016. Eu estava fazendo bastante show, falei: 'não vou me entregar nada, eu não sou bandido'", relembra. "Fiquei fazendo o baile foragido. A polícia estava na porta do baile e fui preso."
Depois de seis meses privado de sua liberdade, Rennan teve direito a uma audiência sobre o seu caso e percebeu uma série de equívocos no processo de acusação.
"O delegado que me prendeu se contradiz a toda hora. Ele falou que eu monitorava a passagem da polícia através de aplicativo de mensagens, que criei um baile clandestino dentro do Complexo da Penha. Também tem uma foto que ele colocou no processo, a foto do Carnaval de 2014. Eu estou com um fuzil de madeira, aqui no Rio de Janeiro nas favelas as crianças têm um costume de fazer fuzis de madeira no carnaval. É nítido que o fuzil é de madeira."
O DJ relembra que foi absolvido em primeira instância após a audiência, já que a juíza não aceitou a explicação das provas apresentadas pelo delegado. No entanto, o Ministério Público recorreu da decisão e acabou condenando Rennan a seis anos e oito meses de prisão. O músico acredita que sua condenação tenha a ver com o evento criado por ele, o Baile da Penha, considerado o maior baile funk do Rio de Janeiro, que chegou a receber 25 mil pessoas em 2018.
"Eu fui condenado por algum motivo e não sei se foi o baile, as polêmicas do baile com relação ao tráfico, que não é competente para mim. Eu estava lá toda semana exercendo a minha função como DJ, conquistei minha casa, conquistei meu carrinho, e isso tudo é tirado de você."
Rennan conta que a condenação fez ele perder contratos e oportunidades, como algumas viagens que tinha vontade de realizar.
"Eu gosto muito da cultura americana. Meu sonho era ir à Califórnia, conhecer o Brooklyn, só de ter essa mancha criminal, é uma parada que já me impediu de ir lá. Costumo dizer que quando você está preso, você está enterrado vivo. A família às vezes passava por algum problema e eu não podia resolver. Então isso me fez ficar muito incapaz, me sentir menos homem pra caralho. Logo quando saí dessa situação que eu estava, eu vi que a minha fúria não vai me trazer benefício algum. Deixei tudo o que não estava me agregando para trás."