Remédio natural que faz bem para memória e ajuda na ansiedade

Corticeira e araucarias em Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul (Getty Images)
Corticeira e araucarias em Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul (Getty Images)

Por Cristiane Capuchinho

Compostos extraídos da casca da corticeira (cujo nome científico é Erythrina falcata), uma árvore encontrada na vegetação brasileira do Maranhão ao Rio Grande do Sul, podem ajudar no tratamento da ansiedade sem apresentar efeitos colaterais para a memória.

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A descoberta foi feita por um grupo de pesquisadores liderados pela professora Suzete Maria Cerutti, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), e publicada em artigo no periódico científico ‘European Journal of Pharmacology'.

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“A maior parte dos ansiolíticos que existem no mercado, principalmente os benzodiazepínicos, causam problema na memória. O objetivo era identificar substâncias que pudessem ser usada para a ansiedade sem prejudicar a memória”, explica a pesquisadora da Unifesp.

A planta escolhida para a pesquisa, também conhecida como bico-de-papagaio, é da família de espécies usadas tradicionalmente para fazer chás calmantes, como o mulungu. A planta é rica em alcaloides, substância ansiolítica, e flavonoides, conhecidos anti-oxidantes.

No estudo, os pesquisadores obtiveram um extrato da casca da corticeira e, mais tarde, isolaram deste extrato as substâncias flavonoides. O extrato e os compostos isolados foram usados em um experimento com 80 ratos, que receberam diferentes doses destes compostos ou drogas tradicionalmente usadas, como o Diazepam. O teste permitia avaliar os movimentos dos ratos, comportamentos que se assemelham à ansiedade em humanos e a memória que os levaria a evitar lugares aversivos.

A pesquisa revelou que os ratos tratados com dois compostos isolados de corticeira que se ligam aos receptores Gabaa, assim como o Diazepam, tiveram bom resultado para ansiedade e também para a memória. “Além de reduzir a ansiedade e não prejudicar a memória, dependendo dos componentes usados, ele beneficiou a formação de memória avaliada”, detalha Cerutti.

O resultado é um primeiro passo para o desenvolvimento de um remédio fitoterápico para a ansiedade com base na corticeira. Ainda são necessárias pesquisas com outros animais e, mais tarde, testes com humanos para comprovar os efeitos e verificar possíveis efeitos colaterais.

A pesquisadora destaca que os testes foram feitos com um extrato específico da Erythrina falcata ou compostos isolados desta planta, o que não significa que chás da planta, ou de outras espécies da mesma família, tenham o mesmo efeito e alerta para o efeito do uso de plantas medicinais simultaneamente ao de outros remédios sem acompanhamento médico.

“É preciso que a população tenha consciência que pode haver interação entre diferentes substâncias que têm efeito no sistema nervoso. Se a pessoa já toma o Diazepam, por exemplo, e vai tomar um medicamento dessa natureza que age na mesma área, é preciso ter cuidado. O efeito pode ser aumentado ou pode ser anulado, depende da interação entre os medicamentos”, adverte a pesquisadora, que recomenda o acompanhamento médico.

Plantas com resultados sobre ansiedade

Passion flower Passiflora close up
Passion flower Passiflora close up

Enquanto a pesquisa sobre a corticeira é promessa para o futuro, há outras plantas com efeitos já comprovados e com recomendação para uso dos fitoterápicos em tratamento de ansiedade.

As raízes de valeriana e as flores de maracujá (Passiflora) estão presentes em diversos fitoterápicos ansiolíticos.

“A valeriana tem um efeito mais sedativo, e é usada também para insônia. Já a passiflora é mais ansiolítica, ela tem um efeito no mesmo neurotransmissor que remédios como Rivotril, Diazepam”, explica Ricardo Tabach, pesquisador do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas da Unifesp.

Os fitoterápicos à base de passiflora podem ser usados ocasionalmente sem prescrição médica, mas para uso contínuo ou por mais de duas semanas, é preciso consultar um médico, segundo indica o Memento Fitoterápico, uma obra com informações sobre 28 plantas medicinais publicada em 2017 pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Já os remédios à base de valeriana devem ter sempre indicação médica.

Há também a kava-kava (Piper methysticum), planta originária das Ilhas Samoa, que é base de fitoterápicos para o tratamento de estágios leves a moderados de ansiedade e insônia, por períodos de até oito semanas. “O uso crônico pode trazer problemas hepáticos”, afirma Tabach.

A melissa, também conhecida como erva-cidreira, e a camomila são plantas com efeito ansiolítico leve descrito na Farmacopeia Brasileira e sem necessidade de prescrição médica. “A melissa e a camomila têm uma propriedade ansiolítica leve muito mais baseada em óleos essenciais, por serem plantas aromáticas. Então, ela funciona quando se produz um aquecimento”, indica Tabach.

Já o mulungu (Erythrina mulungu), planta tradicionalmente usada por seu efeito calmante, inspira cuidados. “Ela tem substâncias com efeito ansiolítico, mas tem um perfil um pouco tóxico. O mulungu pode acabar causando uma perda acentuada de reflexos, de capacidade motora, pode provocar também paralisia muscular”, acentua o pesquisador da Unifesp.

Cuidados na compra de fitoterápicos

Como para todos os medicamentos comprados em farmácia, o uso de remédios à base de plantas pode apresentar riscos à saúde e não pode ser indiscriminado.

Muitos fitoterápicos precisam de indicação médica. E mesmo os que não dependem da indicação, seu uso deve ser relatado ao médico no caso de outros tratamentos, pois pode haver a interação de substâncias presentes nas plantas com outros remédios indicados pelo profissional de saúde.

Na hora de comprar, os medicamentos fitoterápicos devem ter registro sanitário da Anvisa, o que indica que sua fórmula foi aprovada e é segura. Outra possibilidade, é a aquisição em farmácias de manipulação que, neste caso, devem ter autorização da vigilância sanitária para funcionar.