Pedro Bial lembra namoro de Gloria Maria e José Roberto Marinho
Jornalista pioneira morreu nesta quinta-feira (2)
Resumo da Notícia:
Pedro Bial falou sobre o namoro de Gloria Maria e José Roberto Marinho
Jornalista pioneira morreu nesta quinta-feira (2)
Apresentador revelou situação representativa do casal em público
A representatividade de Gloria Maria foi além das câmeras e Pedro Bial resgatou isso em depoimento ao vivo no "Encontro". Primeira repórter negra da televisão brasileira, a jornalista morreu nesta quinta-feira (2) com um legado inquestionável de irreverência no telejornalismo e na vida.
Em participação no programa matinal, o amigo de longa data da jornalista relembrou de um episódio sobre o namoro de Gloria com José Roberto Marinho, herdeiro do Grupo Globo. Após Manoel Soares destacar que ela foi a primeira brasileira a usar a Lei Afonso Arinos, que proibiu a discriminação racial no Brasil em 1951, Bial recordou de mais uma situação representativa da colega de profissão.
"O José Roberto não vai ficar triste de eu contar isso. O José Roberto Marinho namorou a Gloria. O filho dele brincava com um menino negro, acho que era filho do porteiro, como de costume. Eles, um dia, foram entrar no clube, no Country Clube do Rio de Janeiro, e o menino foi barrado", iniciou o jornalista.
Na sequência, ele ressaltou a quebra de paradigmas da pioneira da TV. "O José Roberto, quando soube disso, no dia seguinte, foi almoçar com a Gloria Maria no restaurante do clube, marcar aquela posição. Acho que é só mais uma história que a Gloria está presente. Acho importante a gente contar para saber, primeiro, que as coisas mudam, mas que não mudam sozinhas", declarou Bial.
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Vale lembrar que Gloria abriu a história durante entrevista ao "Conversa com Bial". O apresentador quis confirmar o assunto citado pelo jornalista Leôncio Nossa no livro biográfico de Roberto Marinho, intitulado "O Poder Está no Ar". Na participação no programa, ela confirmou o caso e compartilhou a aflição em testemunhar o racismo no clube carioca.
"Uma coisa que nunca falei, não sei como foi com o menino [amigo do filho de José Roberto], mas conosco foi horrível: o clube inteiro olhando para aquela mesa, eu não sabia o que fazer", relatou. "Eu não entendia aquela maluquice que era o clube, eu não entendia nada", completou.
Ela ainda confessou ter se sentido julgada pelos presentes. "E eu: 'José, vamos embora, todo mundo olhando pra gente.' E eu não sabia se era porque eu era negra ou se também era porque ele era filho do Roberto Marinho, mas foi um dos momentos mais ruins, mais desagradáveis da minha vida. Aquela sensação, eu me sentia como um macaco no zoológico, todo mundo ali, esperando a hora de dar uma banana", declarou.
Carreira
Gloria era um das jornalistas mais importantes do Brasil e estreou na televisão em 1971 durante a cobertura de um dos maiores desastres da história do Rio de Janeiro: a queda de parte do elevado Paulo de Frontin. “Quem me ensinou tudo, a segurar o microfone, a falar, foi o Orlando Moreira, o primeiro repórter cinematográfico com quem trabalhei”, disse em depoimento ao Memória Globo.
Desde então a jornalista não parou mais e teve uma carreira meteórica por conta de sua espontaneidade em reportar os fatos da cidade. Sempre contratada da TV Globo, ela trabalhou como repórter nas redações do “Jornal Hoje”, “Bom Dia Rio” e “RJTV” no começo da trajetória.
Gloria foi a primeira repórter negra a entrar em um link ao vivo no “Jornal Nacional”. Também cobriu a posse do presidente Jimmy Carter, em 1977, e entrevistou presidentes militares durante a ditadura. O temido João Baptista Figueiredo foi um deles e entrou para o currículo da profissional.
“Foi quando ele [João Figueiredo] fez aquele discurso ‘eu prendo e arrebento’ – para defender a abertura (1979). Na hora, o filme acabou e não tínhamos conseguido gravar. Aí eu pedi: ‘Presidente, é a TV Globo, o ‘Jornal Nacional’, será que o senhor poderia repetir? Problema seu, não vou repetir’, disse Figueiredo a Gloria. Ela ainda lembra que ele mandava, com termos racistas, sua segurança impedir a aproximação da repórter.
Passaporte carimbado
Uma das marcas da carreira de Gloria Maria são as viagens ao redor do mundo. Ela já preencheu mais de oito passaportes com carimbos de imigração dos países que passou e essa trajetória começou em 1986 quando integrou o time do “Fantástico”.
Além das viagens para exibir belezas do mundo e coisas excêntricas, ela também era requisitada para entrevistar artistas famosos como Michael Jackson, Harrison Ford, Nicole Kidman, Leonardo Di Caprio e Madonna. “Saí daqui e diziam que a Madonna era difícil. Foi antipaticíssima com a Marília Gabriela e debochou do seu inglês”.
Informada que teria quatro minutos com a artista, ela jogou com o improviso e ganhou a estrela. “Olha, Madonna, eu tenho quatro minutos, vou errar no inglês, estou assustada, acho que já perdi os quatro minutos”, afirmou e a artista respondeu: “Dê a ela o tempo que ela precisar.”
Além de cobrir viagens e celebridades, ela também teve momentos na história do mundo na sua história como: a guerra das Malvinas (1982), a invasão da embaixada brasileira do Peru por um grupo terrorista (1996), os Jogos Olímpicos de Atlanta (1996) e a Copa do Mundo na França (1998).
Gloria Maria Matta da Silva nasceu no Rio de Janeiro. Filha do alfaiate Cosme Braga da Silva e da dona de casa Edna Alves Matta, estudou em colégios públicos onde obteve sua formação cultural: “Estudei inglês, francês, latim e vencia todos os concursos de redação da escola”. Em 1970, foi levada por uma amiga para ser rádio-escuta da Globo do Rio. Gloria também chegou a conciliar os estudos na faculdade de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) com o emprego de telefonista da Embratel. Na Globo, tornou-se repórter numa época em que os jornalistas ainda não apareciam no vídeo.