Pedro Bial abre conversa recente com Gloria Maria: "Não queria ser vista"

Jornalista morreu nesta quinta-feira (02) após novas metástases cerebrais

Gloria Maria e Pedro Bial no
Gloria Maria e Pedro Bial no "Fantástico". Foto: Divulgação/Globo

Resumo da Notícia:

  • Pedro Bial falou que Gloria Maria não quis ser vista em sua fase final

  • Apresentador relatou conversa recente de Ano Novo com a amiga

  • Jornalista morreu nesta quinta-feira (02) após novas metástases cerebrais

Pedro Bial fez questão de marcar presença nos Estúdios Globo para lamentar a morte de Gloria Maria e relembrar memórias com o ícone do telejornalismo brasileiro. Diagnosticada com novas metástases cerebrais em 2022, a jornalista morreu nesta quinta-feira (02).

Em participação no "Encontro" ao vivo, o apresentador relatou uma conversa recente com a amiga de longa data das reportagens. Ele contou ter sonhado com Gloria no último dia do ano passado de forma feliz e divertida. Por conta disso, o repórter sentiu necessidade de entrar em contato com a jornalista para celebrar o Ano Novo. "Mandei uma mensagem pra ela para dedicar um novo ano e tal. E ai, ela me respondeu dizendo que estava mal, que estava vivendo aquele inferno há meses", afirmou.

Na sequência, Bial revelou que Gloria Maria não quis se expor, mesmo aos amigos mais íntimos, na fase final de sua vida, quando já estava bastante debilitada. "Ela estava em casa, não queria ser vista, estava muito frágil. Acho que a natureza da vaidade da Gloria era se mostrar sempre forte", concluiu.

Leia mais

Parceria na TV e na vida

Amigos há décadas, Bial e Gloria dividiram momentos importantes da televisão brasileira como o comando do "Fantástico" por uma década e coberturas jornalísticas como a Copa do Mundo da França, em 1998. "Falei que fui 'casado' com Gloria Maria por dez anos e levaram ao pé da letra. Nós ríamos muito disso, porque fizemos tudo, mas casar e relação íntima, nunca tivemos", afirmou ele aos risos. "É um pedaço de mim que vai embora", acrescentou.

"Se algum dia alguém me perguntar o que é a vida na sua versão mais exuberante e vigorosa, vou dizer que é Gloria Maria nos anos 1970 jogando frescobol. Era muito linda! Só o Rio de Janeiro poderia ter produzido Gloria Maria", refletiu ele.

Bial retomou as palavras de amor pela grande amiga. "A gente brigava muito, se implicava muito depois se abraçava, se dava beijo na boca. Nossa relação era uma farra", relembrou. "Ela tinha, como eu, um grande gosto, tesão pela notícia", acrescentou.

Ele ainda disse que a perda de Gloria já era uma notícia esperada ao destacar o sofrimento da jornalista nos últimos tempos. “Eu ainda estou bastante atarantado, apesar de certa maneira a gente sabia que ia chegar, que estava chegando. (…) Ela estava sofrendo muito nos últimos tempos", afirmou.

Carreira

Gloria era um das jornalistas mais importantes do Brasil e estreou na televisão em 1971 durante a cobertura de um dos maiores desastres da história do Rio de Janeiro: a queda de parte do elevado Paulo de Frontin. “Quem me ensinou tudo, a segurar o microfone, a falar, foi o Orlando Moreira, o primeiro repórter cinematográfico com quem trabalhei”, disse em depoimento ao Memória Globo.

Desde então a jornalista não parou mais e teve uma carreira meteórica por conta de sua espontaneidade em reportar os fatos da cidade. Sempre contratada da TV Globo, ela trabalhou como repórter nas redações do “Jornal Hoje”, “Bom Dia Rio” e “RJTV” no começo da trajetória.

Gloria foi a primeira repórter negra a entrar em um link ao vivo no “Jornal Nacional”. Também cobriu a posse do presidente Jimmy Carter, em 1977, e entrevistou presidentes militares durante a ditadura. O temido João Baptista Figueiredo foi um deles e entrou para o currículo da profissional.

“Foi quando ele [João Figueiredo] fez aquele discurso ‘eu prendo e arrebento’ – para defender a abertura (1979). Na hora, o filme acabou e não tínhamos conseguido gravar. Aí eu pedi: ‘Presidente, é a TV Globo, o ‘Jornal Nacional’, será que o senhor poderia repetir? Problema seu, não vou repetir’, disse Figueiredo a Gloria. Ela ainda lembra que ele mandava, com termos racistas, sua segurança impedir a aproximação da repórter.

Passaporte carimbado

Gloria Maria na Holanda. (Foto: Globo/Divulgação)
Gloria Maria na Holanda. (Foto: Globo/Divulgação)

Uma das marcas da carreira de Gloria Maria são as viagens ao redor do mundo. Ela já preencheu mais de oito passaportes com carimbos de imigração dos países que passou e essa trajetória começou em 1986 quando integrou o time do “Fantástico”.

Além das viagens para exibir belezas do mundo e coisas excêntricas, ela também era requisitada para entrevistar artistas famosos como Michael Jackson, Harrison Ford, Nicole Kidman, Leonardo Di Caprio e Madonna. “Saí daqui e diziam que a Madonna era difícil. Foi antipaticíssima com a Marília Gabriela e debochou do seu inglês”.

Informada que teria quatro minutos com a artista, ela jogou com o improviso e ganhou a estrela. “Olha, Madonna, eu tenho quatro minutos, vou errar no inglês, estou assustada, acho que já perdi os quatro minutos”, afirmou e a artista respondeu: “Dê a ela o tempo que ela precisar.”

Além de cobrir viagens e celebridades, ela também teve momentos na história do mundo na sua história como: a guerra das Malvinas (1982), a invasão da embaixada brasileira do Peru por um grupo terrorista (1996), os Jogos Olímpicos de Atlanta (1996) e a Copa do Mundo na França (1998).

Gloria Maria Matta da Silva nasceu no Rio de Janeiro. Filha do alfaiate Cosme Braga da Silva e da dona de casa Edna Alves Matta, estudou em colégios públicos onde obteve sua formação cultural: “Estudei inglês, francês, latim e vencia todos os concursos de redação da escola”. Em 1970, foi levada por uma amiga para ser rádio-escuta da Globo do Rio. Gloria também chegou a conciliar os estudos na faculdade de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) com o emprego de telefonista da Embratel. Na Globo, tornou-se repórter numa época em que os jornalistas ainda não apareciam no vídeo.