Pandemia: exaustos, como pais dão esperança aos filhos?
No segundo ano da pandemia do coronavírus, não são poucos os pais, exaustos, que têm de dar esperança aos filhos, crianças ou adolescentes. Mas de onde tirá-la, se, dia após dia, as notícias parecem ficar piores?
Lembrar-se que, a despeito da pandemia, a vida segue acontecendo é o primeiro conselho da psicóloga, neuropsicóloga e psicanalista Valdeli Vieira, especialista no atendimento à infância e à adolescência, para toda a família.
Planeje e faça acontecer o presente
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"Estamos em uma pandemia e temos de nos preservar, mas a gente não pode respirar isso o tempo todo, só falar e pensar nisso. Há uma vida acontecendo e precisamos vivê-la. Ela traz limitações, mas também possibilidades", afirma Valdeli.
Todos no mesmo barco
É fato que crianças e adolescentes estão sofrendo com as limitações impostas pela doença, mas não se pode ignorar as perdas – materiais e emocionais – que os adultos também tiveram.
Pais e mães não devem passar por cima das próprias emoções a fim de se manterem fortes para os filhos. "Neste momento da pandemia, é importante que os sentimentos sejam nomeados e legitimados. Está difícil para todo mundo. Não adianta negar", diz a psicóloga e psicanalista.
Crianças e jovens são muito impactados pela maneira como os adultos lidam com as situações. Muitas das informações sobre a realidade atual chegam para os filhos por meio dos pais, por isso a resposta emocional desses também vai servir como modelo de comportamento. Mas vale um alerta aqui: tanto o excesso de negatividade, de desesperança, quanto o de positividade fazem mal para toda a família.
Reconhecer e legitimar a raiva e o medo – em conversas francas – beneficiam tanto pais quanto filhos. Varrer sentimentos para debaixo do tapete não faz com que desapareçam e, em geral, pode fazer com que fiquem ainda mais à flor da pele.
Olho no presente
O segundo conselho que Valdeli dá para os adultos é se concentrem no presente. "Se tem uma certeza que essa pandemia nos trouxe é a imprevisibilidade do futuro", fala. Por isso, em vez de fazer planos para sabe-se lá quando todo mundo estiver vacinado, planeje e faça acontecer o presente.
"Temos as informações científicas sobre o que devemos fazer para nos prevenir da contaminação. Precisamos seguir essas orientações e olhar para o dia de hoje. O que posso fazer hoje com aquilo que tenho? O que posso criar nesse vazio que ficou, porque o que eu tinha antes, não tenho mais?", questiona a psicóloga.
Pausa para respirar
Nesse contexto, não viver conectado ao noticiário da pandemia 24 horas por dia, fazer uma atividade física ou mesmo meditar, pode dar um respiro para o adulto se reenergizar e assim conseguir cuidar do outro. Já em família, ver um filme ou mesmo cozinhar – aproveitando para conversar – pode acalmar a ansiedade de todos e abrir novas perspectivas.
Para Valdeli, assim como tornou algumas famílias mais resilientes, a pandemia agravou a situação daquelas que já tinham seus problemas. Por isso, se o pai ou a mãe não está dando conta, é hora de pedir ajuda. "É importante buscar cuidado e atendimento quando se identifica sofrimento. Talvez não uma ajuda psicoterapêutica – processo mais longo –, mas uma orientação mais pontual para reorganizar os membros desse núcleo."