Orgasmo feminino é sinônimo de poder sexual, e principalmente, de libertação
Por Bárbara Canever
Em pleno século 21, ainda é um tabu falar sobre orgasmo feminino. Por mais que avanços seguem acontecendo, graças as lutas feministas, ainda há muito o que avançar quando falamos sobre sexo (com a mulher sentindo prazer, é claro). A ideia da satisfação feminina é algo recente visto que antigamente a relação sexual era somente para as mulheres procriarem e o prazer era totalmente agregado aos homens, que desde cedo convivem com a pornografia e são educados a “virar homem”.
Esse despertar do prazer feminino ocorre com a apropriação do próprio corpo, e também, de suas vontades e desejos, explica a psicóloga e sexóloga Cláudia Renzi. “Não dependemos mais da aprovação do outro [parceiro], esse é o ponto crucial e também que exigimos nosso prazer, sexo de qualidade, diálogo e parceria”, diz a especialista, que ressalta também a normalização do uso de anticoncepcional, trabalho fora do lar e a conquista do próprio salário como pontos definitivos para a iniciação dessa consciência do prazer.
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Desprendimento do masculino
Outro ponto é que até pouco tempo atrás o que conhecíamos sobre orgasmo era masculino e fálico. “Apenas em 2004, Rosemary Basson, pesquisadora do Centro de Sexualidade da British Columbia University, descreveu o ciclo de resposta sexual feminina como necessidade da perspectiva psicológica e fisiológica feminina [...] Por isso a dificuldade de se falar em prazer da mulher, afinal o nosso maior órgão de prazer é o clitóris e não o canal vaginal que contempla a entrada do pênis”, diz a sexóloga.
A especialista comenta que muitas vezes há sinais de machismo até em certas explicações. “Mesmo sistemas ditos matriarcais, como o tantra, "vendem" a ejaculação feminina e o ponto G, que, no fundo, não passa de masculinizar o prazer feminino. Outro ponto para seguir com esse padrão é um homem explicar para uma mulher o jeito que ela deve ou não gozar”, afirma.
Prazer é bem-estar
Muito além da fisiologia, o orgasmo é um coquetel de bem-estar. “É onde provamos da Petit mort (período refratário que ocorre depois do orgasmo), o desprendimento de nós mesmos, nos levando ao extremo relaxamento muscular e mental das tensões acumuladas. Para se chegar a um orgasmo temos tensão, carga e descarga, ou seja, tensionamos e depois relaxamos, por isso mesmo é possível sentir espasmos após o ápice”, conta Cláudia.
Lembrando que o orgasmo não está relacionado apenas ao ato sexual. “É bem possível que você goze na academia, ou realizando coisas que te dão extremo prazer. O maior benefício que orgasmos podem trazer é um corpo mais fluido sem tantas tensões e travas com a respiração totalmente livre”, diz a sexóloga.
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Muitas vezes, tabu entre as mulheres
A ideia do prazer feminino só tem a agregar e muito o que percorrer. De acordo com uma pesquisa realizada em 2016 pelo Prosex (Projeto de Sexualidade da Universidade de São Paulo), metade das brasileiras não chegam ao orgasmo quando transam. Uma das causas é que as próprias possuem medo de serem julgadas e preferem ficar reclusas sobre o assunto. Afinal de contas, a sociedade ainda trata como um tabu mulheres que gostam e falam sobre relações sexuais.
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Para quebrar esse paradigma, Cláudia afirma ser interessante que essas pessoas façam as seguintes avaliações: “É importante começar a fazer uma exploração por si mesma com a pergunta: O que significa sexo para mim? A partir da resposta começa a grande viagem de auto descoberta. Leituras de qualidade sobre sexualidade é um ótimo começo, cursos ou workshops sobre a temática em ambiente seguro para se explorarem, se observarem.”