"Mulheres Apaixonadas”: O Brasil está preparado para essa reprise?
No dia 24 deste mês, o Canal Viva irá começar uma reprise de “Mulheres Apaixonadas”, um dos grandes sucessos do autor Manoel Carlos. A trama fez tanto barulho que impactou até mesmo o debate público sobre causas sociais na época de sua exibição.
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A novela ficou, em especial, conhecida pelos muitos temas complexos e polêmicos que abordou e a levou a ser capa da revista ‘Veja’ na época. Talvez, justamente por isso, valha perguntar: será que o Brasil, em seu estado atual, está preparado para essa reprise?
Vamos relembrar alguns dos muitos temas da novela e discutir um pouco como alguns ainda são muito importantes, enquanto outros não envelheceram tão bem:
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Violência contra idosos
Uma das histórias mais reconhecíveis de “Mulheres Apaixonadas” é a de Dóris (Regiane Alves), que maltratava seus avós. A trama levou o Congresso Nacional a debater novas legislações a respeito dos direitos dos idosos, tamanha foi sua repercussão. Com a volta do tema, pode ser que novas discussões sejam levantadas, e até algumas que foram esquecidas sejam relembradas. Mas talvez o público fique desconfortável em ver aquela personagem maltratando aqueles avós de novo -- e Regiane tenha que lidar com os espectadores a xingando nas redes.
Mulheres que amam demais
Giulia Gam interpretou uma das personagens mais marcantes de sua carreira em “Mulheres Apaixonadas”. Como Heloísa, ela teve muitas oportunidades de mostrar suas facetas viscerais. Entretanto, a história da personagem não é uma das que envelheceu melhor: ela era uma mulher completamente apaixonada por seu marido, Sérgio (Marcello Antony), de forma obsessiva, e cometeu absurdos para ficar com eles.
Ao mesmo tempo que a novela teve uma louvável atitude em mostrar o drama da personagem e em colocar luz sobre o Mada (Mulheres que Amam Demais Anônimas), o comportamento muitas vezes machista e cruel de Sérgio foi perdoado e em certos casos até “justificado” pelas atitudes de sua mulher, algo que, nos dias de hoje, e com as discussões sobre o feminismo bem mais avançadas, não deve ser visto com bons olhos por pelo menos uma parte dos espectadores.
Violência contra as mulheres
Talvez o núcleo mais comentado até hoje sobre “Mulheres Apaixonadas” seja o protagonizado por Helena Ranaldi e Dan Stulbach, onde a atriz vivia Raquel, uma professora que tentava fugir do relacionamento abusivo com seu marido, Marcos, que a espancava. A história chocou o público por conta das cenas violentas em que Marcos batia em Raquel com uma raquete de tênis, mas fez um importantíssimo alerta contra a violência doméstica no Brasil.
Na época, até o então presidente Lula percebeu o sucesso da trama, e disse que as mulheres brasileiras precisavam se levantar contra “os raqueteiros”. Infelizmente, a violência doméstica ainda é muito presente na sociedade, e talvez, com o retorno da novela, este assunto possa, novamente, ganhar a atenção da mídia, levantando novas discussões.
Romance entre duas meninas
O romance entre as personagens Rafaela (Paula Picarelli) e Clara (Alinne Moraes) também mobilizou o público e teve um papel muito importante em mostrar o preconceito sofrido por duas adolescentes que só queriam estar juntas porque se amavam. Entretanto, em uma pesquisa encomendada pela Globo, foi constatado que o público rejeitava a ideia de que as duas tivesses cenas se beijando.
As duas trocaram carinhos, mas nunca se beijaram na novela, o que por si só mostra que a dramaturgia já avançou um pouco nessas abordagens. Por outro lado, no atual momento, a representatividade LGBTQ+ se faz ainda mais importante e a trama permite um ponto de reflexão de como as questões mudaram de uns anos pra cá. E, no final, o autor conseguiu fazer com que as duas dessem um selinho em uma encenação de Romeu e Julieta feita dentro da novela. Então, no fim, o amor prevalece.