Morte de Gloria Maria faz jornalistas da Globo chorarem ao vivo

Jornalista morreu nesta quinta-feira (02)

Glória Maria. (Foto: Globo/Ramón Vasconcelos)
Glória Maria. (Foto: Globo/Ramón Vasconcelos)

Resumo da Notícia:

  • Morte de Gloria Maria fez repórteres chorarem ao vivo

  • Ícone do telejornalismo morreu nesta quinta-feira (02)

  • Jornalistas se emocionaram ao falarem sobre a perda na TV

A relevância do trabalho e da vida de Gloria Maria vai além do protocolo em frente às câmeras. Ícone do telejornalismo brasileiro, a repórter morreu nesta quinta-feira (02) e prova seu legado nas lágrimas derramadas pelos colegas de profissão.

Heraldo Pereira não conteve a emoção em depoimento no "Bom Dia Brasil". Ele abriu o coração ao falar sobre a importância da primeira jornalista negra da televisão brasileira em sua vida.

"Um momento muito difícil a perda da Gloria em meio ao trabalho que a gente faz há tanto tempo. A Gloria faz parte da minha vida, da minha carreira, da minha Ribeirão Preto. Os primeiros contatos com a Gloria foram desde o começo da minha a carreira, na minha cidade natal", iniciou. "Nesse momento, a minha mãe está em casa assistindo, ela é fã da Gloria Maria, todos os nossos parentes, todos os nossos familiares em Ribeiro Preto", acrescentou.

Na sequência, o jornalista ressaltou o quanto admira a amiga de anos:

"Eu tive uma longa vida com a Gloria Maria. Recentemente, nas últimas passagens da TV Globo, no Rio de Janeiro, estive com ela, falando das filhas, das meninas. É uma referência para nós como jornalistas, como colega e é uma referência para o nosso país. Um momento muito difícil para todos nós", concluiu com os olhos lacrimejados.

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Ao noticiar a perda da amiga de emissora na Globo News, Leilane Neubarth viu sua boca tremer e caiu no choro por conta da proximidade com Gloria Maria.

"Eu peço desculpas aqui porque está muito difícil para mim. A Glória sempre foi, além de muita amiga, uma inspiração, o nosso farol. A pessoa que sempre estava cheia de ânimo em todas as matérias. Sempre uma maneira da gente aprender com ela. Conviver com a Glória era aprender com ela todo dia", afirmou após dar informações sobre Glória Maria visivelmente emocionada.

Em seu perfil, Leilane ressaltou a dificuldade em noticiar a perda da jornalista ao compartilhar o vídeo de sua transmissão. "O jornal mais difícil que eu já fiz", escreveu.

Bastante abalado, Pedro Bial fez questão de participar da grade matinal da TV Globo no "Encontro" e até fez uma passagem pelo "Conexão Globo News". No programa de Patrícia Poeta e Manoel Soares, o amigo de longa data da repórter, com quem dividiu a bancada do "Fantástico" por 10 anos, também não segurou as lágrimas.

"Falei que fui 'casado' com Gloria Maria por dez anos e levaram ao pé da letra. Nós ríamos muito disso, porque fizemos tudo, mas casar e relação íntima, nunca tivemos", afirmou ele aos risos. "É um pedaço de mim que vai embora", acrescentou.

"Se algum dia alguém me perguntar o que é a vida na sua versão mais exuberante e vigorosa, vou dizer que é Gloria Maria nos anos 1970 jogando frescobol. Era muito linda! Só o Rio de Janeiro poderia ter produzido Gloria Maria", refletiu ele.

Maju Coutinho, outra mulher negra que se tornou referência no jornalismo brasileiro, relembrou a primeira vez que encontrou com Gloria: "Transe: 'estado de intensa abstração, de exaltação ou de absorção, através do qual alguém sente que transcendeu a realidade sensível'. Foi neste estado que entrei quando encontrei Glória Maria pessoalmente pela primeira vez".

Carreira

Gloria era um das jornalistas mais importantes do Brasil e estreou na televisão em 1971 durante a cobertura de um dos maiores desastres da história do Rio de Janeiro: a queda de parte do elevado Paulo de Frontin. “Quem me ensinou tudo, a segurar o microfone, a falar, foi o Orlando Moreira, o primeiro repórter cinematográfico com quem trabalhei”, disse em depoimento ao Memória Globo.

Desde então a jornalista não parou mais e teve uma carreira meteórica por conta de sua espontaneidade em reportar os fatos da cidade. Sempre contratada da TV Globo, ela trabalhou como repórter nas redações do “Jornal Hoje”, “Bom Dia Rio” e “RJTV” no começo da trajetória.

Gloria foi a primeira repórter negra a entrar em um link ao vivo no “Jornal Nacional”. Também cobriu a posse do presidente Jimmy Carter, em 1977, e entrevistou presidentes militares durante a ditadura. O temido João Baptista Figueiredo foi um deles e entrou para o currículo da profissional.

“Foi quando ele [João Figueiredo] fez aquele discurso ‘eu prendo e arrebento’ – para defender a abertura (1979). Na hora, o filme acabou e não tínhamos conseguido gravar. Aí eu pedi: ‘Presidente, é a TV Globo, o ‘Jornal Nacional’, será que o senhor poderia repetir? Problema seu, não vou repetir’, disse Figueiredo a Gloria. Ela ainda lembra que ele mandava, com termos racistas, sua segurança impedir a aproximação da repórter.

Passaporte carimbado

Gloria Maria na Holanda. (Foto: Globo/Divulgação)
Gloria Maria na Holanda. (Foto: Globo/Divulgação)

Uma das marcas da carreira de Gloria Maria são as viagens ao redor do mundo. Ela já preencheu mais de oito passaportes com carimbos de imigração dos países que passou e essa trajetória começou em 1986 quando integrou o time do “Fantástico”.

Além das viagens para exibir belezas do mundo e coisas excêntricas, ela também era requisitada para entrevistar artistas famosos como Michael Jackson, Harrison Ford, Nicole Kidman, Leonardo Di Caprio e Madonna. “Saí daqui e diziam que a Madonna era difícil. Foi antipaticíssima com a Marília Gabriela e debochou do seu inglês”.

Informada que teria quatro minutos com a artista, ela jogou com o improviso e ganhou a estrela. “Olha, Madonna, eu tenho quatro minutos, vou errar no inglês, estou assustada, acho que já perdi os quatro minutos”, afirmou e a artista respondeu: “Dê a ela o tempo que ela precisar.”

Além de cobrir viagens e celebridades, ela também teve momentos na história do mundo na sua história como: a guerra das Malvinas (1982), a invasão da embaixada brasileira do Peru por um grupo terrorista (1996), os Jogos Olímpicos de Atlanta (1996) e a Copa do Mundo na França (1998).

Gloria Maria Matta da Silva nasceu no Rio de Janeiro. Filha do alfaiate Cosme Braga da Silva e da dona de casa Edna Alves Matta, estudou em colégios públicos onde obteve sua formação cultural: “Estudei inglês, francês, latim e vencia todos os concursos de redação da escola”. Em 1970, foi levada por uma amiga para ser rádio-escuta da Globo do Rio. Gloria também chegou a conciliar os estudos na faculdade de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) com o emprego de telefonista da Embratel. Na Globo, tornou-se repórter numa época em que os jornalistas ainda não apareciam no vídeo.