Moda após os 50 é libertador e não limitador

Consuelo Blocker, Isabel Dias e Sarah Jane Adams referências após os 50 quando o assunto é moda e empoderamento (Foto: Reprodução/Instagram)
Consuelo Blocker, Isabel Dias e Sarah Jane Adams referências após os 50 quando o assunto é moda e empoderamento (Foto: Reprodução/Instagram)

Quando eu era criança, tinha uma ideia muito clara de como eu ia me vestir quando fosse mais velha. Lembro de ficar desenhando nas tardes intermináveis da infância, me imaginando como uma mulher de 30 anos (praticamente uma anciã pra meu eu de 10 anos) de saia lápis, terninho feito sob medida e salto alto até pra ir na padaria. Para uma menina influenciada pelos filmes, novelas e revistas dos anos 80 e 90, essa era a única imagem possível para uma mulher bem-sucedida.

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O tempo passou, minhas prioridades de estilo se organizaram e a agora, a caminho dos 40, ainda uso tênis, me divirto muito com as roupas e estou bem longe de usar terninho. Mas se a gente parar para analisar, muitos ainda acreditam que a idade é diretamente proporcional à sobriedade do visual. Parece que quanto mais velha a pessoa, mais sérias e discretas as roupas precisam ser. E daí vai ficando tudo tão sério e tão discreto, que a pessoa vai as poucos como que deixando de existir.

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Essa imagem estereotipada e generalista das pessoas mais velhas é real, mas aos poucos dá indícios de desgaste. Nas revistas de moda em geral, ainda existem poucas tentativas de inclusão de pessoas mais velhas. Mas parece que tem um movimento (ainda tímido) começando a acontecer nesse sentido. Segundo uma pesquisa do site ‘The Fashion Spot' de 2018, sobre análise de diversidade na moda, se observou um número maior de mulheres acima dos 50 anos nas capas de revista de moda.

Em maio desse ano a 'Vogue Britânica’ lançou uma edição chamada 'The Non Issue’, voltada para quebrar preconceitos relacionados à idade. Essa edição traz a atriz Jane Fonda na capa com uma entrevista exclusiva. A Jane Fonda aliás, que no auge dos seus 81 anos está mais em alta do que nunca e que até foi presa recentemente por protestar contra o aquecimento global. Ela é um belo exemplo de alguém que usa muito bem sua visibilidade para dar luz temas como esse que ainda são tão pouco explorados.

A atriz Jane Fonda (Foto: Andrew Kelly/Reuters)
A atriz Jane Fonda (Foto: Andrew Kelly/Reuters)

Outro exemplo é o da revista ‘Allure’, que decidiu parar de usar o termo anti-idade como uma tentativa de mudar o pensamento em torno do envelhecimento. Essa atitude é importante porque em algum nível todos nós tentamos negar nossa própria idade.

Em uma sociedade em que a juventude é valorizada e o passar dos anos é estigmatizado, não é raro se investir horrores em procedimentos para parecer mais jovem. Somos tão bombardeados por imagens de pessoas jovens que acaba virando uma competição impossível de se vencer. E é muito louco porque o processo de envelhecer - para quem está vivo e quer continuar assim - é inevitável e essa deveria ser a primeira coisa que se tem em mente quando se trata desse assunto.

Nesse sentido, a moda, ao invés de ser algo limitador pode funcionar como uma ferramenta de libertação. Dizem que é preciso pelo menos 10 mil horas de experiência em algo para conseguir ser especialista naquilo. Se vestir bem e se sentir bem com aquilo que se veste é uma disciplina, uma curva de aprendizado que só cresce ao longo da vida. Já que a gente precisa se vestir (quase) todos os dias, que tal fazer isso grande habilidade?

Dia desses eu li uma fala de alguém que dizia que usava a moda como forma de se sentir relevante, assim como a arte, filmes e livros. Então, para todas as idades, mas principalmente com o passar dos anos, quando já nos tornamos mestres de nós mesmos brincar com cores, estilos, tecidos e modelagens pode ser algo que te leva além e nos faz sentir mais vivos do que nunca.