Maria da Paz da vida real: ela deu dez R$ 10 mil para um namorado que não existe
Na novela da Globo ‘A Dona do Pedaço’, a personagem de Juliana Paes, Maria da Paz, está sofrendo. Além de ser traída pela filha, Josiane, ela também tem sido enganada pelo marido, Régis, de quem tenta conseguir o divórcio.
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O playboy, que tem um caso com a enteada, vive às custas da empresária e demonstra que, muitas vezes, somos colocados em situações inimagináveis por causa da nossa busca pelo amor.
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Maria, por exemplo, chegou a dizer que a filha enganou a única pessoa que a amou de verdade, e essa sensação de traição emocional foi o que alimentou uma das cenas mais marcantes da trama até o momento, quando ela bate em Jô ao confrontá-la sobre tudo o que aconteceu.
E por mais que histórias como essa pareçam acontecer só na televisão… Temos provas de que não é bem assim. É o caso de Joana*, mãe de três filhas já adultas, que recentemente passou por uma situação que já virou até série de televisão: o catfish.
Quem não conhece o termo, vai entendê-lo melhor agora: catfish é o nome dado aos casos em que uma pessoa usa a internet para criar um perfil falso nas redes sociais e enganar outra, fazendo com que a vítima se envolva emocionalmente.
Amanda*, uma das filhas de Joana, diz que o que aconteceu com a mãe foi exatamente isso. Depois de perder o ex-marido em 2017, por quem ainda era bastante apegada, ela começou a usar as redes sociais com mais frequência.
Como sempre buscava o neto na escola junto com a filha, Amanda soube que a mãe começou a trocar mensagens com um homem, americano, que trabalhava em um ponto de extração de petróleo. Ele mandava fotos com frequência, era romântico, e até chamava Joana de "esposa".
"Até que, um dia, ela falou que eles tinham brigado. Eu já fiquei com o pé atrás, desconfiei de golpe na hora. Ela confessou que ele pediu dinheiro, que só voltaria da tal estação de petróleo se ela desse um valor X para ele. Eu conversei bastante, disse que isso não cabia, falei pra ela não mandar nada, que tinham outras pessoas por aí solteiras e que não exigiam dinheiro para ter relacionamento. Ela pareceu concordar, se mostrou revoltada", explica Amanda.
A família, que costumava ser bastante próxima e tinha, inclusive, controle das contas da mãe, soube que ela, na verdade, já tinha feito um depósito para o "namorado", no valor de R$ 10 mil em dólares. "Ela fez empréstimo para dar dinheiro a ele, tudo porque ele brigava e dizia que não ia falar mais com ela, já que ela não amava o suficiente para emprestar dinheiro para ele".
Conversar sobre isso não foi fácil. As filhas bloquearam a conta de e-mail da mãe, para impedi-la de continuar o contato com o homem, e a confrontaram, perguntando se o depósito tinha mesmo sido feito. Primeiro, ela negou, depois, confirmou o que aconteceu. Foram mais de duas horas de brigas e discussões, incluindo xingamentos, até Joana entender que fora enganada.
As filhas continuaram a investigação, acompanhando de perto as interações da mãe com “namorado” pelas redes sociais. No fim, elas o encontraram: na verdade, “ele” era uma mulher, aparentemente americana, que falava muito bem inglês e passou uma conta dos Estados Unidos para os depósitos serem feitos em dólar.
Amanda usou o próprio e-mail para confrontar a criminosa e pedir que ela parasse de abordar a mãe, caso contrário contataria a polícia norte-americana. A parte mais difícil foi, de novo, contar para Joana a verdade sobre a pessoa com quem ela achava que se relacionava.
"Ela ficou mortificada, mas com muita vergonha", explica ela. "Deu uma abalada na relação geral, porque a gente fica naquelas de 'Como pode, fez faculdade, pós-graduação e se deixa cair numa dessas'".
O que leva uma pessoa cair no catfish?
Quando falamos em casos como o de Joana, parece mesmo difícil acreditar que uma pessoa já vivida, com escolaridade e acesso à informação, possa cair em uma situação como essas. Mas é aí que entramos na questão da vulnerabilidade.
Segundo o psicólogo Oswaldo Rodrigues Jr., psicoterapeuta sexual e de casais, cada pessoa desenvolve uma forma única de compreender a si mesmo e aos outros - e esse é o primeiro passo para criar vínculos que, eventualmente, podem gerar grandes desilusões.
"Se uma pessoa percebe-se com necessidades que creia que uma outra determinada pessoa com determinadas características possa solucionar, ela fará esforços para estar com ela. Em outras palavras, apaixona-se, ilude-se vivendo emoções que considera necessárias para viver", explica.
Ou seja, independentemente da sua história de vida, se existe algum grau de dúvida sobre si mesma, de insegurança ou de necessidade de aprovação, as chances de um apego maior por alguém que ofereça um mínimo dessas características é enorme.
No caso de Joana, isso fica claro considerando o seu histórico. O ex-marido, de quem se separou quando as filhas eram novas, ainda era muito presente na sua vida. Tanto que, segundo Amanda, ela não pensava em namorar outras pessoas ou até casar novamente, mesmo separada. A morte dele, inclusive, gerou um processo de luto parecido como de uma viúva.
A fragilidade serve, aqui, como um catalizador para uma busca por tentar suprir esse vazio - e, aí, existe um casamento de metas: tanto de quem está buscando ocupar o espaço deixado por aquela dor, quanto por quem pretende se aproveitar da dor alheia. "A fragilidade existe, mas ela exige o complemento, é uma fragilidade que depende emocionalmente da atitude da outra pessoa. O outro usa, mas a pessoa também está usando, mesmo que legalmente somente uma esteja quebrando a Lei", diz Oswaldo.
Superar um caso como esse não é simples - para Amanda, a situação como um todo mudou a relação com a mãe, e, hoje, elas percebem um "climão" que não existia antes, uma dificuldade de relacionamento: "Tudo agora é meio forçado quando ela está junto", explica.
Segundo o psicólogo, tudo depende de trabalhar a fonte do problema. Caso contrário, existem chances da situação se repetir: "Muitas destas pessoas, mesmo sofrendo com um episódio, produzirão novos episódios demonstrando a dependência emocional e pagando preços pelo que para elas é um relacionamento desejado. Numa próxima oportunidade, se não ocorrer a perda financeira, ainda haverá a perda emocional e o engano".
Para isso, a ajuda profissional é essencial. Cuidar da saúde mental é a saída para ajudar essas pessoas, que se veem presas em mecanismos mentais fortes que garantem essa repetição de um padrão.
"Socialmente, o outro é o grande culpado, e ela se desculpa enquanto sofre. Mas ela é partícipe e precisa mudar seus padrões de relacionamento e de dependência emocional" finaliza.
*Os nomes utilizados são fictícios para preservar a identidade da fonte.