'Led Zeppelin IV', disco de 'Stairway to Heaven', faz 50 anos e ainda impressiona

*ARQUIVO* SÃO PAULO, SP, BRASIL, 28-03-2015: O ex-vocalista do Led Zeppelin Robert Plant. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress)
*ARQUIVO* SÃO PAULO, SP, BRASIL, 28-03-2015: O ex-vocalista do Led Zeppelin Robert Plant. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress)

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um dos ĂĄlbuns mais amados da histĂłria, definidor do hard rock dos anos 1970, "Led Zeppelin IV" faz 50 anos nesta segunda-feira. É o disco que traz a canção "Stairway to Heaven", um Ă­cone do gĂȘnero, e que transformou os quatro integrantes do Led Zeppelin em estrelas mundiais, cultuados atĂ© hoje.

Como acontece com praticamente toda grande obra, a produção de "IV" teve percalços, dĂșvidas e surpresas. RespeitadĂ­ssima, a banda havia estreado com dois bons discos de rock em 1969, mas o terceiro, de 1970, havia sido mal recebido pela crĂ­tica -embora nĂŁo pelo pĂșblico.

De "Led Zepellin III" foi escrito, por exemplo, que as cançÔes pesadas eram muito cruas e parecidas entre si. E que o material folk não passava de imitação de Crosby, Stills, Nash & Young.

Assim que "III" saiu, Jimmy Page e Robert Plant começaram a compor novas mĂșsicas. Incomodada com as crĂ­ticas, a banda desistiu de sair em turnĂȘ para promover o novo disco e se isolou numa casa de campo no sul da Inglaterra. Ali, entre jams e reuniĂ”es em frente Ă  lareira, os quatro passaram o inverno, compuseram e gravaram as oito cançÔes de "IV" entre dezembro de 1970 e fevereiro de 1971, com produção de Page.

O equipamento usado foi o famoso estĂșdio mĂłvel dos Rolling Stones, montado na caçamba de um caminhĂŁo e que era alugado para outros artistas quando Jagger e Richards nĂŁo estavam gravando.

Uma primeira mixagem foi descartada, e a segunda, feita em julho de 1971, deu certo. Talvez para responder às críticas sobre o anterior, Page enfiou na cabeça que o novo ålbum não teria título e que o nome Led Zeppelin nem sequer estaria escrito na capa.

Em vez disso, cada membro do grupo criaria ou escolheria um símbolo. O de Page, que parece ter a palavra ZoSo estilizada sobrevive até hoje nas camisetas pretas envergadas pelos fãs. Para a imagem da capa, escolheram um quadro antigo que Plant havia comprado numa loja.

O tĂ­tulo pelo qual o disco Ă© conhecido, afinal, nĂŁo Ă© de verdade. É um apelido que segue lĂłgica dos ĂĄlbuns anteriores, que simplesmente traziam o nome da banda e nĂșmeros romanos. A gravadora tentou de todo jeito demover a ideia de lançar a obra sem o nome da banda estampado, mas Page segurou as fitas e sĂł as entregou quando a Atlantic Records aceitou fazer como ele queria.

"Black Dog" abre o disco com potĂȘncia, no estilo cantor gritando uma frase e guitarra respondendo com outra. O riff, complexo e com mudanças de tempo, foi escrito pelo baixista John Paul Jones. O cachorro preto do tĂ­tulo se refere a um cĂŁo que rondava a propriedade onde a banda estava. Mas a letra de Plant pouco se refere a ele, preferindo desfilar lamentos sobre sexo e mulheres.

O mesmo se pode dizer sobre "Rock and Roll", que traz um riff clĂĄssico do gĂȘnero, inspirado em Chuck Berry. JĂĄ a empolgante bateria de John Bonham, que abre a mĂșsica, Ă© quase um decalque de "Keep A-Knockin'", de Little Richard.

Ian Stewart, o "sexto stone", que tocou piano em diversos clĂĄssicos dessa banda, estava "alugado" junto com o estĂșdio mĂłvel e participa castigando as teclas em "Rock and Roll".

Uma segunda participação especial Ă© a da cantora Sandy Dennis, da banda folk Fairport Convention. Ela e Plant fazem um dueto na delicada "The Battle of Evermore", inspirada num livro sobre as guerras de independĂȘncia escocesa do sĂ©culo 14 que Plant estava lendo.

"Black Dog" e "Rock and Roll" saíram em compactos na ocasião, mas o que a Atlantic Records queria mesmo para o single era "Stairway to Heaven", a quarta canção do disco, que fecha o lado A.

Robert Plant, Jimmy Page, John Paul Jones e John Bonham nos anos 1970 Divulgação **** Plant depois contou em entrevistas que a banda não aceitou por duas razÔes. Primeiro porque queriam que a canção fosse ouvida no contexto do ålbum. Segundo porque se os épicos oito minutos e dois segundos saíssem em compacto, provavelmente com metade de cada lado, o próximo passo seria uma versão condensada para facilitar que tocasse nas rådios.

Essa possibilidade horrorizava, com razĂŁo, a dupla. "Stairway to Heaven" Ă© uma canção construĂ­da em trĂȘs partes distintas, que nĂŁo se repetem como numa mĂșsica normal. Aqui, o primeiro movimento evolui para o segundo e depois ao terceiro, cada qual mais rĂĄpido, mais barulhento e mais empolgante que o anterior. Mexer nessa arquitetura seria um desastre anunciado.

Impressionados com as palavras que Plant escreveu -que nĂŁo traz uma histĂłria, mas um mosaico de observaçÔes sobre a vida-, pela primeira vez o Led imprimiu a letra de uma mĂșsica, no encarte de papel interno. "Desta vez, tĂ­nhamos o que dizer", disse Plant em uma famosa declaração. "Quando li as duas primeiras linhas que havia escrito, quase caĂ­ da cadeira", disse o cantor.

Segundo um biĂłgrafo da banda, "Stairway to Heaven" foi a mĂșsica mais pedida nas rĂĄdios americanas durante a dĂ©cada de 1970. A parte inicial da canção foi inspirada em "Taurus", faixa de 1968, da banda americana Spirit, com quem o Led Zeppelin excursionou nos anos 1960. Em 2016, uma ação contra os ingleses chegou a uma corte nos Estados Unidos, mas nĂŁo teve sucesso.

O lado B de "Led Zeppelin IV" nĂŁo acompanha a excelĂȘncia do lado A. "Misty Mountain Hop" Ă© uma canção esquisita e sem direção, enquanto "Four Sticks" nĂŁo passa de um rock ordinĂĄrio. "Going to California", no entanto, Ă© uma das mais belas baladas que o Led Zeppelin jĂĄ gravou. Inspirada por Joni Mitchell, de quem Plant era fĂŁ, traz um dedilhado envolvente e ensolarado.

O disco fecha com um cover de 1929, "When the Levee Breaks", de Memphis Minnie e Kansas Joe McCoy, que fala de uma enchente do estado americano do Mississippi em 1927. A banda retrabalhou a mĂșsica -e teve a pachorra de assinar a composição ao lados dos veteranos. É um rock demolidor, com uma gaita assassina e maravilhosa, tocada por Plant, e que encerra de forma valente esse ĂĄlbum tĂŁo especial.

"Led Zeppelin IV" vendeu 37 milhÔes de cópias no mundo desde 1971 e provavelmente vai continuar sendo ouvido pelos próximos 50 anos. Nada mal para um enorme zepelim que parecia ser mais pesado que o ar.