Como rever valores e ideias de forma positiva no isolamento social
HĂĄ pouco mais de duas semanas em quarentena pelo coronavĂrus - e com a possibilidade sempre presente desse tempo em isolamento ser prolongado -, começa a parecer complicado manter o pensamento positivo e a esperança de que dias melhores virĂŁo.
Por mais que o estado de alerta seja necessĂĄrio para evitar a disseminação da CODIV-19, esse tambĂ©m pode ser momento mais propĂcio para buscar uma nova perspectiva sobre tudo - o que nos leva de volta a tentar ver o lado bom, atĂ© mesmo, de uma quarentena.
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Para Luciana Machado, co-fundadora do coletivo Base, focado em bem-estar e autoconhecimento, esse perĂodo de mobilização global vai mudar a forma como nos relacionamos com nĂłs mesmos, com os outros e com o mundo. "DecisĂ”es que, normalmente, levariam anos para serem tomadas, precisaram ser postas em prĂĄtica de maneira criativa e emergencial. HĂĄbitos enraizados foram revistos, tendo sido criadas, da noite para o dia, novas formas de se trabalhar, educar, se exercitar e interagir com os amigos", explica.
De acordo com ela, perdemos momentaneamente o contato fĂsico, mas, por outro lado, percebemos que estamos todos conectados e que a qualidade das nossas relaçÔes estĂĄ ancorada na confiança, na empatia e na dedicação que damos Ă elas, independentemente da distĂąncia. "O isolamento nos tirou do piloto automĂĄtico e nos garantiu a pausa que precisĂĄvamos para refletir, repensar nossos hĂĄbitos, relaçÔes e, talvez, atĂ© tirar projetos que hĂĄ anos estavam no papel", continua.
AtĂ© por isso, Luciana explica que essa Ă© uma fase muito propĂcia para rever valores e ideias que vocĂȘ sempre carregou. Por mais que a confusĂŁo e o medo pareçam tomar conta de boa parte dos nossos dias, podemos revertĂȘ-los em auto-reflexĂŁo.
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"Nesse momento, o autoconhecimento Ă© uma ferramenta poderosa para que possamos realizar esse mergulho interno, identificar nossos dons, ativar a nossa potĂȘncia e, com sorte, colocĂĄ-la a favor da humanidade", explica. "Com o amadurecimento individual e coletivo, e o surgimento de novas formas de se relacionar, vĂŁo nascer tambĂ©m novas oportunidades."
Isso é fåcil de observar: timeline à fora, o que mais vemos é uma reavaliação daquilo que consumimos e do que produzimos. O resultado pode vir a ser uma economia mais suståvel e consciente, principalmente com o fortalecimento de marcas locais e pequenos produtores.
No entanto, é sempre muito importante ter cautela nesses momentos de reflexão. Segundo a psicóloga Daniela Faertes, especialista em terapia cognitiva e mudança de comportamentos prejudiciais, é preciso considerar o estado emocional de cada um antes de incentivar uma "viagem interna", como ela chama.
"Pessoas com sintomas depressivos, questÔes voltadas para autodesvalorização ou que possuem o sentimento frequente de que não estão dando conta, são mais beneficiadas em olhar para fora e não para dentro", alerta.
Basicamente, essa revisĂŁo Ă© indicada para aquelas pessoas que conseguiram se adaptar a esse momento e que mantĂ©m uma estabilidade emocional. Ao contrĂĄrio, aqueles que estĂŁo com dificuldades podem entrar em contato com questĂ”es difĂceis de lidar, como porque Ă© tĂŁo difĂcil estar com a famĂlia ou em casal, e isso pode dar abertura para outras questĂ”es, como uma possĂvel separação, insatisfação com o trabalho e gerar uma tristeza difĂcil de administrar.
Ao mesmo tempo, Vanessa Nakamura, também do coletivo Base, comenta que a fase de distanciamento social é interessante para identificarmos tudo o que não é sustentåvel em nossas vidas.
"O tempo nĂŁo Ă© mais uma desculpa para nos escondermos atrĂĄs daquilo que nĂŁo realizamos. Ă um chamado para agirmos, para assumirmos as responsabilidades das nossas vidas em todos os aspectos. Essa experiĂȘncia impacta diretamente as nossas açÔes e, por isso, nos tornaremos mais protagonistas e menos espectadores", reflete ela.
Como repensar valores na prĂĄtica
Antes de mais nada, vale lembrar que nĂŁo existe obrigação alguma em rever os seus valores ou ideias durante um perĂodo conturbado. Para Daniela, se as pessoas conseguirem passar por esse momento com o mĂnimo de prejuĂzos, jĂĄ Ă© o suficiente.
Em segundo lugar, a psicĂłloga diz que aqueles que se sentem preparados para fazer essa revisĂŁo interna podem começar pensando em como gostariam de retomar atividades que foram cerceadas pela quarentena, como as convivĂȘncias sociais e o prĂłprio trabalho.
JĂĄ Luciana aconselha coragem e o estabelecimento de um plano de ação. "A boa notĂcia Ă© que nĂŁo hĂĄ um caminho Ășnico, existem inĂșmeras ferramentas para desbravĂĄ-lo e vocĂȘ sĂł vai ter que descobrir aquele que ressoa mais com vocĂȘ. Pode ser por meio da meditação, da terapia, da escrita, do yoga ou atĂ© da culinĂĄria - o importante Ă© que leve Ă reflexĂŁo", diz ela.
O objetivo, aqui, Ă© ampliar o olhar e a consciĂȘncia, resgatando a autenticidade de cada um e ativando potencialidades individuais. "Use esse tempo de isolamento para alimentar o seu corpo, mente e espĂrito com o que te faz feliz e transforme o universo ao seu redor", continua.
Outro ponto interessante Ă© buscar adotar hĂĄbitos que, antes, eram difĂceis de colocar na rotina. Seja alguns minutos de meditação pela manhĂŁ, exercĂcios fĂsicos feitos na sala de casa ou reservar algumas horas para ficar longe das telas e ler um livro, novas atitudes estĂŁo surgindo e vĂŁo garantir a manutenção desse auto-olhar mesmo quanto a quarentena acabar. "Esse perĂodo nos propicia a desenvolver novos hĂĄbitos. Vamos sair dessa mais conectados com aquilo que nos Ă© essencial", diz Vanessa.
O consenso, aliĂĄs, tem a ver com resiliĂȘncia. AlĂ©m de perceberem que nĂŁo sairemos dessa experiĂȘncia da mesma maneira que entramos, sentimos na pele a capacidade de adaptação das pessoas e a sua clareza para mudar o foco e buscar soluçÔes.
"O curioso que estou vendo nas consultas Ă© que aqueles que estavam em situação mais frĂĄgeis e difĂceis estĂŁo mais adaptados do que aqueles que estavam bem na prĂłpria rotina", diz Daniela. "Pessoas mais vulnerĂĄveis estĂŁo carregando uma caracterĂstica de resiliĂȘncia que nem mesmo elas imaginavam que teriam. Isso Ă© interessante de levar para o positivo. Como somos capazes de sermos adaptĂĄveis Ă s situaçÔes por mais difĂceis que sejam."
Ă sempre essencial tambĂ©m nĂŁo romantizarmos perĂodos de crise e de isolamento, como o que vivemos agora, especialmente se considerarmos que existem pessoas em situaçÔes de risco e tantas outras que estĂŁo passando por uma sĂ©rie de dificuldades neste momento. Isso sem contar as situaçÔes de privilĂ©gio que levam a esse olhar diferenciado da rotina e do mundo interno.
Porém, aos que conseguem, é interessante tentar ao måximo usar esse momento para gerar mudanças positivas em si mesmo, e que, com certeza, vão reverberar nos seus entornos.
"Hoje, conseguimos enxergar a nĂłs mesmos e ao outro com verdadeira empatia. Vemos por aĂ empresas redefinindo suas produçÔes para atender aos hospitais, pessoas compartilhando suas atividades para promover o bem-estar coletivo, os formatos de trabalho sendo revistos. Ă a forma como consumimos e produzimos (bens e serviços) que estĂĄ sendo inteiramente revista. Tudo o que jĂĄ nĂŁo era sustentĂĄvel cai por terra. Ă o inĂcio de uma nova era: mais humana, mais sustentĂĄvel e mais colaborativa", reflete Vanessa.