Harry e Meghan se mudaram para os Estados Unidos — As mudanças podem ajudar na depressão?

De acordo com psicoterapeutas, a mudança de Harry e Meghan para a Califórnia pode ter sido uma forma de "enfrentar ou fugir" dos problemas.

Tanto o príncipe Harry quanto Meghan Markle falaram abertamente sobre problemas de saúde mental nos últimos meses. Meghan chegou a dizer que teve pensamentos suicidas durante a gravidez de Archie, que hoje tem dois anos.

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Harry, de 36 anos, contou que a duquesa, de 39, só não colocou as ideias suicidas em prática porque pensou na dor que ele sentiria ao perder mais uma mulher importante em sua vida.

O príncipe também explicou que o casal tentou fazer sua situação funcionar durante quatro anos antes de se mudar para os Estados Unidos devido aos problemas de saúde mental e que ir para a Califórnia não era o plano original.

Os psicoterapeutas afirmam que, embora as mudanças possam ajudar a modificar a mentalidade, também podem ser uma reação de fuga às circunstâncias externas, e recomendam cautela ao tomar esse tipo de decisão.

"Fazer grandes mudanças na vida nem sempre 'cura' a depressão. A decisão pode acabar sendo tomada de forma reativa, sob estresse agudo", diz a psicoterapeuta Gin Lalli ao Yahoo UK

"As mudanças podem parecer certas no momento, mas, para tomar boas decisões, é preciso envolver a parte mais racional e objetiva do cérebro. Isso não acontece em casos de depressão".

"Muitas vezes, tomar a decisão repentina de fazer grandes mudanças é só uma reação ao estresse. É como se o cérebro sentisse o nível de perigo e quisesse 'fugir' do problema".

"Surge a necessidade de agir imediatamente, mas geralmente essa ação é só uma reação ao momento, sem considerar as consequências em longo prazo", continua a psicoterapeuta.

"Por outro lado, é bom saber que certas coisas precisam mudar. Mas fazer essas mudanças de forma rápida e irracional pode criar problemas mais adiante".

"Muitas pessoas que eu conheço se arrependem dessas decisões tomadas no 'calor do momento'", conclui.

O caso de Harry e Meghan é um pouco diferente porque, para a duquesa, havia um sentimento de volta ao lar. Nas primeiras entrevistas depois de comprar uma mansão em Santa Bárbara com Harry, no ano passado, ela disse que era "bom estar em casa".

A hipnoterapeuta clínica e psicoterapeuta Geraldine Joaquim explica ao Yahoo UK: "Para Meghan, a mudança para os Estados Unidos foi um retorno à familiaridade. Ela deve ter se sentido completamente perdida no Reino Unido, pois, além de estar em um país diferente, também teve que encarar a Família Real, com todas as suas estruturas e tradições rígidas.

"Não importa o que pensem sobre ela, sem dúvida foi um choque cultural. Portanto, o retorno a um território mais familiar, saindo das sombras e voltando a um mundo que inclui a possibilidade de trabalhar deve ter sido um alívio".

"E com certeza mudou muito as condições de saúde mental dela".

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No entanto, segundo a terapeuta, a situação é mais complexa para Harry, que estava preocupado com a esposa, o filho e os futuros filhos, e também tinha mais "bagagem emocional".

"O príncipe também precisa lidar com a sombra da mãe e sua história trágica. Podemos dizer que ele está vivendo esse legado. Diana fez de tudo para se distanciar da família real, deu aquela famosa entrevista ao ex-jornalista da BBC Martin Bashir e estava conseguindo criar uma nova identidade e um novo papel para si mesma antes da morte prematura", comenta.

"Portanto, para ele, a mudança para os EUA resolveu a necessidade imediata de se livrar das restrições da Família Real. Já o lado da saúde mental é outra história".

"No entanto, em muitos casos, a ação acaba sendo um solução. Muitas pessoas com problemas de saúde mental se sentem paralisadas e incapazes de pensar no futuro, o que piora cada vez mais a situação".

“Uma mudança, seja de lugar, de emprego ou de atividade, pode funcionar como uma saída".

"Pode ser uma chance de interromper os mesmos padrões de pensamento negativo para criar outros novos, promovendo uma saúde mental mais positiva", continua Geraldine.

No entanto, a terapeuta pede cautela, pois "quando nos mudamos, os problemas vão junto" e acrescenta que "algumas pessoas conseguem deixar para trás a vida antiga e seguir em frente rumo a um futuro melhor, outras não. Depende muito da mentalidade, da capacidade de adaptação, das percepções sobre a vida antiga e da disposição para adotar novidades".

A premiada psicóloga e psicoterapeuta Natasha Tiwari, que trabalha com famílias, comenta: "A depressão é caracterizada por uma tristeza persistente ou falta de interesse pela vida. Uma grande mudança pode ajudar caso resolva as causas básicas do estado depressivo e promova algum nível de empolgação com a vida.

"No entanto, para muita gente, uma grande mudança na vida, como mudar para outro país, pode não ser o antídoto da depressão".

"Para a maioria das pessoas, esse tipo de mudança traz uma série de pressões, como procurar uma casa em um país desconhecido e desbravar o ambiente novo sem contar com os amigos e uma rede de apoio por perto".

"Tudo isso pode agravar as emoções negativas, com o risco adicional de sofrer de ansiedade e solidão, causando uma espiral de tristeza possivelmente mais profunda".

"Além do amor e do apoio um do outro, Harry e Meghan têm o benefício das posições sociais que ocupam, que facilitam a transição para um novo círculo social e a busca de novos trabalhos".

"Com a mudança, o casal tomou certa distância das pessoas que, segundo eles, causaram e intensificaram seus estados depressivos. Portanto, dá para entender por que a mudança de país pode ter realmente proporcionado benefícios reais para a saúde mental e o bem-estar geral dos dois", conclui Natasha.

Em um especial sobre saúde mental que estreou recentemente no Apple TV+, Harry contou como aprendeu a ajudar Meghan a lidar com os pensamentos suicidas.

"É muito interessante. Muitas pessoas têm medo de falar (sobre suicídio) porque sentem que não têm as ferramentas adequadas para dar os conselhos certos, mas basta se colocar à disposição para ajudar", disse o príncipe.

"O importante é ouvir, porque ouvir e conversar é, sem dúvida, a melhor maneira de começar."

Na série de cinco episódios chamada "The Me You Can't See," Harry acusa a família real de "negligência total" e diz que "não vai ficar em silêncio por causa das intimidações que sofreu".

No especial, ele não parece se referir diretamente aos membros da família, mas fala sobre a "vergonha" que algumas famílias sentem quando alguém tem problemas de saúde mental.

"Os pais e irmãos sentem uma certa vergonha por não ter identificado nem percebido a situação e também porque a pessoa afetada não sentiu confiança para procurá-los", comenta Harry.

"Mas todo mundo sabe que as pessoas que sofrem ou enfrentam alguma dificuldade escondem muito bem os sentimentos".

Harry faz campanhas sobre saúde mental há bastante tempo e foi um dos criadores da Heads Together, com o príncipe William e Kate, quando ainda era membro da realeza.

É provável que ele continue trabalhando com esse tema, principalmente agora que fundou a Archewell com a esposa Meghan.