Guarda-roupa compartilhado já é uma realidade e saiba por que você deveria testar
Depois de trabalhar por um tempo como consultora de estilo, Daniela Ribeiro se sentia incomodada. Estava cansada de ver tanta roupa parada no armário de suas clientes, cansada de saber que essas pessoas sentiam uma necessidade enorme de continuar comprando, apesar de não usarem nem 20% do que já tinham. Esse era um comportamento recorrente, por isso ela teve a ideia de começar a fazer bazares em que essas pessoas podiam levar as peças de roupas que não usavam e trocar por outras. Só que, mesmo assim, o incômodo persistia.
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Foi só algum tempo depois, em uma viagem para a Holanda, quando descobriu o conceito de guarda-roupa compartilhado que caiu a ficha: era isso que queria fazer. Seu propósito na moda era agir para gerar uma mudança de comportamento nas pessoas, para desacelerar um pouco o consumo e provocar reflexão. Foi assim que, em 2015, surgiu a ideia para 'Roupateca’, o primeiro guarda-roupa compartilhado do Brasil.
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Tá, mas o que é guarda-roupa compartilhado? É exatamente o que o nome diz, um guarda-roupa enorme com várias peças à disposição dos clientes, que podem ser utilizadas via serviço de assinatura mensal ou, em alguns casos, por meio de aluguel de peças avulsas. Em muitos lugares do mundo já podemos encontrar iniciativas como a Lena (Holanda), Rent The Runway (EUA) e Schwap (Inglaterra), que também são conhecidos como bibliotecas de roupas.
A ideia é algo que está inserido dentro do conceito de consumo colaborativo, termo que ganhou grande popularidade desde que foi discutido no livro ‘O que é meu é seu’ (2010) de Rachel Bootsman e Roo Rogers. Mesmo para quem ainda não está muito familiarizado com o conceito, consumo colaborativo é algo já faz parte do nosso dia a dia. Quando chamamos um Uber ou alugamos uma casa no Airbnb, estamos participando de uma rede de pessoas que cooperam entre si para ter suas necessidades atendidas.
Na moda, o consumo colaborativo ainda não é algo que domina o mainstream, mas os guarda-roupas compartilhados são uma ótima saída para atender novas necessidades, tanto de consumo quanto ambientais. Atualmente, uma parcela significativa de consumidores busca maneiras de viver a vida de forma mais simples, sem acumular tanta coisa. Além disso, hoje se fala muito sobre sustentabilidade na moda e de que forma podemos fazer escolhas mais “verdes”, mas já parou pra pensar que mesmo a roupa mais sustentável ainda tem um impacto no mundo? “Nesse caso, a roupa mais sustentável é a roupa que já está pronta”, diz Daniela, da Roupateca.
Chegamos em um ponto em que o fast fashion se revelou um modelo de consumo insustentável. Todos os anos cerca de 100 milhões de toneladas de roupas são jogadas no lixo ao redor do mundo, isso sem contar com todo impacto gerado pela produção. Então, hoje, mesmo que a ideia de validação pelo consumo ainda seja algo muito enraizado na nossa sociedade, existem vários tipos de movimentos buscando formas de consumo alternativas.
O grande diferencial dos guarda-roupas compartilhados é atender necessidades dos consumidores de moda enquanto provoca esse tipo de reflexão. Ainda segundo Daniela, quando assinam um serviço como esse os clientes começam a entender na prática, a partir da experiência do uso de um acervo grande e muito bem curado que o acesso pode ser suficiente em contrapartida à posse.
No contexto em que vivemos, quando todas as estatísticas provam que sustentabilidade e consumo consciente são urgências, podemos nos desesperar e esperar o final dos tempos ou buscar novas oportunidades, novas formas de encarar o mundo. Fico com a segunda opção e torço para que venham mais iniciativas como os guarda-roupas compartilhados e que a nossa mentalidade com relação ao consumo exagerado não tarde a mudar.