Gloria Maria visitou mais de 163 países, mas tinha dois favoritos; veja quais
Jornalista também chegou a se inscrever para ir à Lua
Ao longo de mais de cinco décadas de carreira, Gloria Maria, que morreu nesta quinta-feira (2), no Rio de Janeiro, vítima de metástases cerebrais, ficou marcada pelo pioneirismo e pelas reportagens ao redor do mundo. No total, a jornalista conheceu 163 países.
Em meio a tantos lugares, Gloria revelou dois especiais, que marcaram sua trajetória e nos quais gostaria de viver com as filhas caso deixasse o Brasil.
Em entrevista a amiga e socialite, Narcisa Tamborrindeguy, em seu canal no YouTube, em 2018, a jornalista elegeu duas ilhas europeias:
Saint-Tropez, na França;
Ibiza, na Espanha.
"Eu conseguiria ser livre com as minhas filhas e com segurança. Lá ninguém te incomoda, não tem violência", explicou.
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Lugares inesquecíveis
Apesar da paixão pelas ilhas espanhola e francesa, Gloria apontou outros três países como "inesquecíveis" em entrevista ao programa "Altas Horas", da Globo, em 2019. São eles:
Índia;
Irã;
Brasil.
Porque o Brasil a cada momento, a cada minuto, a gente tem mais um lugar, mais uma coisa a descobrirconsiderou
Primeira viagem profissional
No mesmo programa, a jornalista lembrou que sua primeira viagem profissional aconteceu em janeiro de 1977, para a posse do presidente norte-americano Jimmy Carter, em 1977. "Depois dessa primeira viagem eu não parei mais, e nem quero", disse, na ocasião.
"Quando eu comecei a viajar, eu era muito pobre, então não tinha dinheiro para conhecer o mundo. Eu comecei a viajar pela TV Globo com 16 para 17 anos, e aí eu fiz do mundo o meu espaço."
Sonho não alcançado
Em meio a tantos países conhecidos, o sonho de conhecer um lugar em especial não foi realizado por Gloria: a Lua.
“Eu sempre tive um sonho: eu queria ir à Lua. Estou inscrita na NASA para o dia que tiver o primeiro voo tripulado, aí eu vou", projetou em 2019.
A apresentadora andou lado a lado com a história. Participou de coberturas como a da Guerra das Malvinas, em 1982; a posse do presidente americano Jimmy Carter, em 1977; os Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996; a Copa do Mundo da França, em 1998, entre outras.
Carreira
Gloria era um das jornalistas mais importantes do Brasil e estreou na televisão em 1971 durante a cobertura de um dos maiores desastres da história do Rio de Janeiro: a queda de parte do elevado Paulo de Frontin. “Quem me ensinou tudo, a segurar o microfone, a falar, foi o Orlando Moreira, o primeiro repórter cinematográfico com quem trabalhei”, disse em depoimento ao Memória Globo.
A jornalista deixa duas filhas - Maria e Laura, de 14 e 15 anos. Gloria nunca se casou, mas fez diversos amigos fieis durante a vida e contou com a ajuda deles nos últimos anos.
Desde então a jornalista não parou mais e teve uma carreira meteórica por conta de sua espontaneidade em reportar os fatos da cidade. Sempre contratada da TV Globo, ela trabalhou como repórter nas redações do “Jornal Hoje”, “Bom Dia Rio” e “RJTV” no começo da trajetória.
Gloria foi a primeira repórter negra a entrar em um link ao vivo no “Jornal Nacional”. Também cobriu a posse do presidente Jimmy Carter, em 1977, e entrevistou presidentes militares durante a ditadura. O temido João Baptista Figueiredo foi um deles e entrou para o currículo da profissional.
“Foi quando ele [João Figueiredo] fez aquele discurso ‘eu prendo e arrebento’ – para defender a abertura (1979). Na hora, o filme acabou e não tínhamos conseguido gravar. Aí eu pedi: ‘Presidente, é a TV Globo, o ‘Jornal Nacional’, será que o senhor poderia repetir? Problema seu, não vou repetir’, disse Figueiredo a Gloria. Ela ainda lembra que ele mandava, com termos racistas, sua segurança impedir a aproximação da repórter.
Passaporte carimbado
Uma das marcas da carreira de Gloria Maria são as viagens ao redor do mundo. Ela já preencheu mais de oito passaportes com carimbos de imigração dos países que passou e essa trajetória começou em 1986 quando integrou o time do “Fantástico”.
Além das viagens para exibir belezas do mundo e coisas excêntricas, ela também era requisitada para entrevistar artistas famosos como Michael Jackson, Harrison Ford, Nicole Kidman, Leonardo Di Caprio e Madonna. “Saí daqui e diziam que a Madonna era difícil. Foi antipaticíssima com a Marília Gabriela e debochou do seu inglês”.
Informada que teria quatro minutos com a artista, ela jogou com o improviso e ganhou a estrela. “Olha, Madonna, eu tenho quatro minutos, vou errar no inglês, estou assustada, acho que já perdi os quatro minutos”, afirmou e a artista respondeu: “Dê a ela o tempo que ela precisar.”
Gloria Maria Matta da Silva nasceu no Rio de Janeiro. Filha do alfaiate Cosme Braga da Silva e da dona de casa Edna Alves Matta, estudou em colégios públicos onde obteve sua formação cultural: “Estudei inglês, francês, latim e vencia todos os concursos de redação da escola”.
Em 1970, foi levada por uma amiga para ser rádio-escuta da Globo do Rio. Gloria também chegou a conciliar os estudos na faculdade de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) com o emprego de telefonista da Embratel. Na Globo, tornou-se repórter numa época em que os jornalistas ainda não apareciam no vídeo.
Morte e luto
Gloria Maria morreu na manhã desta quinta-feira (2), após lutar contra o câncer nos últimos anos.
Governador do Rio de Janeiro, estado onde ela nasceu, Claudio Castro (PL) decretou luto oficial de três dias em homenagem à jornalista.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e outros nomes da política se manifestaram e exaltaram a trajetória da jornalista.