Gloria Maria: entenda as causas e tratamento do câncer de pulmão
Doença é altamente ligada ao tabagismo, mas pode ser desenvolvida por outros motivos
Resumo da notícia:
O tabagismo é o principal fator para o câncer de pulmão
A doença é silenciosa e pode demorar para se manifestar
Entenda mais sobre a condição
O câncer de pulmão, doença que Gloria Maria, que morreu nesta quinta-feira (2), enfrentou em 2019, é um dos grandes percursores da metástase cerebral. Um dos principais motivos para o tumor maligno no tórax é o tabagismo, ou seja, consumo de cigarros. Mas, afinal, o que é esse tipo de câncer e como ele se desenvolve?
Ao Yahoo, o oncologista Fernando Zamprogno explica que o câncer de pulmão é uma neoplasia maligna, ou seja, uma proliferação de células que se acumulam de modo indevido e por um período indeterminado e que acaba adquirindo a capacidade de invadir tecidos ao redor dentro do pulmão e de gerar metástase pelo corpo, como no caso de Gloria.
“Nesse processo de formação do câncer, o maior fator de risco é o tabagismo, ele é responsável por 70 a 75% dos casos de câncer de pulmão, mas outras causas também podem influenciar, como, por exemplo, o gás radônio, presente em alguns granitos e segundo maior causador do câncer de pulmão, e também a poluição atmosférica”, explica o médico, que atua na Rede Meridional/Kora Saúde.
A jornalista não tinha histórico de fumo, ao menos não de conhecimento do público. Nesses casos, a médica oncologista Lucíola Pontes, do Centro de Cuidado em Oncologia e Hematologia Hcor, afirma que a doença costuma se desenvolver a partir de hábitos comuns na formação de outros tipos de câncer:
Ganho de peso;
Sedentarismo;
Consumo excessivo de carne vermelha;
Alimentação inadequada, com pouco consumo de vegetais e frutas;
Consumo de bebida alcoólica.
"Pessoas que trabalharam em áreas com grande poluição, grande quantidade de fumaça, como pessoas que trabalharam na exploração de carvão, mineral ou na queima de alguma substância que inala em grande quantidade de fumaça, também sofrem uma agressão significativa no pulmão. Isso gerar uma inflamação no pulmão", explica o oncologista Rodrigo Ferreira.
Sintomas e diagnóstico
Identificar a doença é um ponto importante, porém difícil logo no início. Esse tipo de câncer é silencioso.
"A maior parte dos tumores em seu estágio inicial não tem sintoma. É um nódulo, uma massa que se inicia no pulmão e o paciente pode passar anos com isso sem sentir nada. A recomendação é, se você fuma, converse com o seu médico que é possível realizar uma tomografia de tórax pra detecção precoce", ressalta Pontes.
No entanto, em alguns casos ou estágios mais avançados, o paciente sente compressão de brônquio, tosse, falta de ar, cansaços e tosse com sangramentos. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) divulgou que, entre 2020 e 2022, cerca de 30 mil pessoas foram diagnosticados com câncer de pulmão no Brasil.
Zamprogno conta que o diagnóstico é feito por biópsia, podendo acontecer de duas formas: por cirurgia ou com um procedimento menos invasivo. “Os exames que dão apoio e ajudam na suspeita da doença são Raio-X e tomografia, sendo a tomografia mais sensível, detectando a doença mais no início”, pontua.
Tratamento
Os especialistas ressaltam que o câncer de pulmão é o que mais mata no mundo. Por isso, é extremamente importante que o tratamento comece logo após o diagnóstico. Gloria Maria tratou a doença com imunoterapia. Dessa forma, estimulou o sistema imunológico para que ele mesmo agisse contra o tumor.
Além da opção feita por Gloria, outras possibilidades são radioterapia, quimioterapia, cirurgia e também drogas orais. Caso a doença seja identificada em estágio muito avançado, alguns pacientes não conseguem realizar a operação de remoção do tumor.
"Baseado na história da Glória Maria, vemos como os tratamentos foram eficazes para ela. No passado, uma metástase cerebral representava uma chance de vida de aproximadamente 06 meses. Colocando em perspectiva o diagnóstico dela, ela ganhou muito mais tempo do que o passado mostrava. Isso reforça o quanto é importante a atuação dos oncologistas, cirurgiões, radioterapeutas e equipe multifuncional para prolongar a vida dos indivíduos da melhor forma possível”, declara Zamprogno.
Controle do tabagismo é essencial
O tabagismo é o grande percursor do câncer de pulmão. Além disso, ele também influencia o câncer de laringe e cavidade oral. Todos os especialistas entrevistados para a matéria ressaltam que a prevenção da doença se dá ao não consumir os cigarros e, claro, seguir bons hábitos no dia a dia.
Fontes: Fernando Zamprogno, oncologista da Rede Meridional/Kora Saúde; Lucíola Pontes, médica oncologista do Centro de Cuidado em Oncologia e Hematologia Hcor e cofundadora do canal Longidade; Rodrigo Ferreira, oncologista do Policlínica Hospital, que integra a Hospita Care.
Relembra a carreira de Gloria Maria
Gloria era um das jornalistas mais importantes do Brasil e estreou na televisão em 1971 durante a cobertura de um dos maiores desastres da história do Rio de Janeiro: a queda de parte do elevado Paulo de Frontin. “Quem me ensinou tudo, a segurar o microfone, a falar, foi o Orlando Moreira, o primeiro repórter cinematográfico com quem trabalhei”, disse em depoimento ao Memória Globo.
Desde então a jornalista não parou mais e teve uma carreira meteórica por conta de sua espontaneidade em reportar os fatos da cidade. Sempre contratada da TV Globo, ela trabalhou como repórter nas redações do “Jornal Hoje”, “Bom Dia Rio” e “RJTV” no começo da trajetória.
Gloria foi a primeira repórter negra a entrar em um link ao vivo no “Jornal Nacional”. Também cobriu a posse do presidente Jimmy Carter, em 1977, e entrevistou presidentes militares durante a ditadura. O temido João Baptista Figueiredo foi um deles e entrou para o currículo da profissional.
“Foi quando ele [João Figueiredo] fez aquele discurso ‘eu prendo e arrebento’ – para defender a abertura (1979). Na hora, o filme acabou e não tínhamos conseguido gravar. Aí eu pedi: ‘Presidente, é a TV Globo, o ‘Jornal Nacional’, será que o senhor poderia repetir? Problema seu, não vou repetir’, disse Figueiredo a Gloria. Ela ainda lembra que ele mandava, com termos racistas, sua segurança impedir a aproximação da repórter.
Passaporte carimbado
Uma das marcas da carreira de Gloria Maria são as viagens ao redor do mundo. Ela já preencheu mais de oito passaportes com carimbos de imigração dos países que passou e essa trajetória começou em 1986 quando integrou o time do “Fantástico”.
Além das viagens para exibir belezas do mundo e coisas excêntricas, ela também era requisitada para entrevistar artistas famosos como Michael Jackson, Harrison Ford, Nicole Kidman, Leonardo Di Caprio e Madonna. “Saí daqui e diziam que a Madonna era difícil. Foi antipaticíssima com a Marília Gabriela e debochou do seu inglês”.
Informada que teria quatro minutos com a artista, ela jogou com o improviso e ganhou a estrela. “Olha, Madonna, eu tenho quatro minutos, vou errar no inglês, estou assustada, acho que já perdi os quatro minutos”, afirmou e a artista respondeu: “Dê a ela o tempo que ela precisar.”
Além de cobrir viagens e celebridades, ela também teve momentos na história do mundo na sua história como: a guerra das Malvinas (1982), a invasão da embaixada brasileira do Peru por um grupo terrorista (1996), os Jogos Olímpicos de Atlanta (1996) e a Copa do Mundo na França (1998).
Gloria Maria Matta da Silva nasceu no Rio de Janeiro. Filha do alfaiate Cosme Braga da Silva e da dona de casa Edna Alves Matta, estudou em colégios públicos onde obteve sua formação cultural: “Estudei inglês, francês, latim e vencia todos os concursos de redação da escola”. Em 1970, foi levada por uma amiga para ser rádio-escuta da Globo do Rio. Gloria também chegou a conciliar os estudos na faculdade de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) com o emprego de telefonista da Embratel. Na Globo, tornou-se repórter numa época em que os jornalistas ainda não apareciam no vídeo.