General do Alto Comando diz que 'insultos' e 'ataques a reputações' buscam 'atingir a coesão' do Exército
Comandante militar do Nordeste, o general Richard Fernandez Nunes publicou um artigo no qual defende que um "inconformismo com a tradicional postura legalista e de neutralidade do Exército" vem ocasionando "ataques a reputações típicos de regimes totalitários" e "insultos a camaradas de longa data". O objetivo dessas práticas, de acordo com o oficial do Alto Comando, seria "tentar atingir a coesão da Força, em flagrante traição ao sacrossanto respeito à hierarquia e à disciplina".
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O texto foi publicado na semana passada em um espaço destinado a blogs no site do próprio Exército. "A excessiva polarização da sociedade e a atuação dos extremos do espectro ideológico no ambiente informacional têm gerado visões radicais, resultando num círculo vicioso de intolerância e de absoluta ausência de diálogo", discorre Richard Nunes. "Essa situação é inaceitável aos membros de uma instituição apartidária, que se orgulha de oferecer oportunidades a todos os brasileiros, sem distinção de classe social, raça, gênero e credo", prossegue o general.
As afirmações de Nunes fazem parte de um artigo chamado "O mundo PSIC e a Ética Militar" — o acrônimo criado pelo oficial refere-se aos termos "precipitação", "superficialidade", "imediatismo" e "conturbação", que seriam, segundo ele, características marcantes do universo tecnológico moderno. "É exatamente na dimensão informacional que temos assistido a condutas em desacordo com a ética militar por parte daqueles que, por indignação, ingenuidade, desconhecimento e, até mesmo, má-fé, têm contribuído para disseminar a desinformação, a relativização de valores e, consequentemente, a desunião que enfraquece o espírito de corpo", pontua o general, correlacionando a própria teoria ao tom de reprimenda que marca o texto.
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"A precipitação é marca típica desse ambiente repleto de meias-verdades e fake news, onde se disparam e replicam mensagens sem a menor preocupação com a veracidade dos fatos e a idoneidade das fontes", analisa Richard Nunes, que continua: "Toma-se como verdade, de modo absolutamente irresponsável, conteúdos com juízos de valor destinados ao ataque a reputações e à crítica a decisões dos escalões superiores". Ele arremata: "A um militar que se preza não se permite essa falta de cuidado e de lealdade para com a instituição a que serve".
Em 2018, Richard Nunes foi nomeado secretário de Segurança do estado do Rio pelo também general Walter Souza Braga Netto, à época comandante militar do Leste e interventor na Segurança fluminense escolhido pelo então presidente Michel Temer. No governo seguinte, de Jair Bolsonaro, Braga Netto foi ministro da Casa Civil e da Defesa, além de candidato a vice na chapa derrotada na busca pela reeleição.
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Durante e depois das eleições, ao lado de outros oficiais graduados que não aderiram a anseios golpistas, Richard Nunes tornou-se alvo das articulações digitais bolsonaristas, sofrendo uma série de ataques nas redes. Em seu artigo, o general também recrimina a "divulgação de memes difamatórios" e os "vazamentos" de "supostas informações".
O governo Lula vivenciou, em seu primeiro mês, uma série de tensões com as Forças Armadas, sobretudo o Exército. Além das suspeitas de leniência de militares nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, quando as sedes dos três Poderes foram invadidas e depredas em Brasília por apoiadores do ex-presidente, o petista chegou a trocar o comandante do Exército menos de um mês após escolher o general Júlio César de Arruda para o posto. Ele acabou substituído, no fim de janeiro, pelo general Tomás Miguel Ribeiro Paiva — outro nome que sofreu com os constantes ataques digitais.