Entenda o caminho que "Marte Um" terá que percorrer até o Oscar 2023

"Marte Um" é o filme escolhido pelo Brasil para disputar vaga no Oscar 2023. (Foto: Divulgação)
"Marte Um" é o filme escolhido pelo Brasil para disputar vaga no Oscar 2023. (Foto: Divulgação)

Marte Um” foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Visuais para representar o Brasil na corrida pelo Oscar de Melhor Filme Internacional. O longa de Gabriel Martins ("No Coração do Mundo") foi o primeiro filme a passar pela votação após o processo de seleção dos filmes brasileiros na premiação ter sido completamente reformulado.

Após a seleção, o filme terá uma longa trajetória de campanha para conseguir ficar entre os finalistas da categoria. Entenda o que mudou com o novo processo de votação e o caminho que o filme terá que percorrer até a estatueta:

  • Como funcionava a escolha do representante do Oscar?

Nas últimas décadas, diversos países rivais profissionalizaram o processo de escolha de qual filme iriam representá-los na corrida pelo prêmio de Melhor Filme Internacional, enquanto o Brasil seguiu utilizando um método colocado em prática pelo antigo Ministério da Cultura.

Na última edição, a comissão se reuniu uma única vez para definir qual filme seria o representante e “Deserto Particular” foi o escolhido durante o encontro para ser enviado à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos. Mas crítico e membro da Academia Brasileira de Cinema, Waldemar Dalenogare aponta problemas que atrapalhavam o país: “O processo de seleção do Brasil ao Oscar ficou suscetível a variadas interferências políticas, lobby e em alguns casos acabou nomeando filmes sem qualquer possibilidade de fazer o circuito nos Estados Unidos”, contou em entrevista ao Yahoo.

“Em anos anteriores, o Brasil era um dos últimos países a enviar oficialmente seu filme para a Academia. Isso limita bastante o circuito que o filme pode fazer nos Estados Unidos - além de realmente afetar contratos de distribuição”, explicou. “E Oscar precisa de muita campanha, muita organização. Tivemos casos de bons selecionados que tiveram pouco tempo ágil para chegar nos Estados Unidos e pensar em uma campanha, dado o prazo apertado.”

  • O que mudou?

A mudança começou no início de 2022, quando um grupo composto por profissionais de várias áreas do audiovisual brasileiro encaminhou um dossiê para a Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais. O documento prezava por um novo método, que fosse moderno, atualizado e aumentasse as chances do país na disputa.

Segundo Dalenogare, o dossiê para reformulação focou especialmente em três frentes:

a) antecipação do prazo de envio do filme selecionado;

b) criação de uma pré-lista;

c) ampliação da comissão de seleção.

O novo método foi aprovado e, além de “Marte Um”, pré-selecionaram também “A Viagem de Pedro” (Laís Bodanzky), "A Mãe" (Cristiano Burlan), "Carvão" (Carolina Markowicz), "Pacificado" (Paxton Winters) e "Paloma" (Marcelo Gomes). Com essa medida, a comissão teve a oportunidade de ouvir diferentes perspectivas e o filme selecionado terá mais tempo para campanha.

  • O que faz de um filme o grande escolhido?

Para a votação final da Academia, cerca de 10 mil pessoas participam da seleção dos vencedores das estatuetas. Para que um filme seja escolhido, "é necessário que um filme na categoria de melhor longa internacional tenha não só um impacto na questão de estrutura fílmica - como um bom roteiro e uma trama arrebatadora - mas também enorme visibilidade", explica Dalenogare.

"Por isso, várias empresas do mercado acabam apostando muito na ampla rodagem em festivais - dando enorme importância para o circuito de promoção a partir de setembro. Como eu gosto de dizer, Oscar é qualidade e campanha, e algumas vezes a campanha acaba decidindo a vitória", acrescenta.

  • Em quais regras o longa-metragem precisa se encaixar para ter espaço na premiação?

Os filmes precisam seguir de acordo com as datas impostas pela Academia e ser lançado nos cinemas do país na janela específica para o Oscar. Além disso, o longa precisa cumprir outras regras secundárias.

"O filme precisa ter controle criativo de profissionais do país que enviou a produção, por exemplo. No caso do Brasil, no momento da inscrição é necessário apresentar o Comprovante de Produto Brasileiro que é validado pela Ancine. Além disso, é necessário que a maioria dos diálogos sejam em língua não-inglesa - para evitar uma desclassificação", detalha o crítico.

  • Agora que “Marte Um” foi selecionado, qual é o próximo passo?

"A Ancine disponibiliza uma verba do Programa de Apoio ao Oscar - que não é corrigida desde sua criação, em 2008. Com a desvalorização do real e aumento expressivo de custos para uma campanha, o dinheiro disponibilizado no máximo ajuda a fazer uma sessão em Hollywood", contou. "Nos últimos anos, no entanto, a verba só é liberada meses depois da realização do Oscar, o que fez com que alguns produtores de filmes enviados em anos anteriores fossem em busca de empréstimos para montar alguma estrutura nos Estados Unidos."

As expectativas no momento é que "Marte Um" feche rapidamente um acordo nos Estados Unidos e que a empresa responsável pela distribuição acredite no potencial do filme para incluí-lo no circuito limitado de sessões em cidades como Los Angeles, São Francisco e Nova York a partir de outubro.