Diretor de "Marte Um" quer representar coletividade brasileira no Oscar 2023

"Marte Um" é o representante brasileiro na corrida pelo Oscar 2023. (Foto: Divulgação/Filme de Plástico)
"Marte Um" é o representante brasileiro na corrida pelo Oscar 2023. (Foto: Divulgação/Filme de Plástico)

"Marte Um" foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Visuais para representar o país na disputa de Melhor Filme Internacional no Oscar 2023. O longa espelha a realidade do país ao mostrar uma família tentando existir coletivamente apesar de suas diferenças.

A caminhada para a trama ficar entre os cinco filmes selecionados pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas e disputar a estatueta de Melhor Filme Internacional é longa, mas Gabriel Martins ("No Coração do Mundo"), diretor do longa, espera representar a força da coletividade brasileira no tapete vermelho da maior premiação do cinema.

“Eu quero levar um entendimento de que o ‘Marte Um’ só existe porque tiveram muitas pessoas antes de nós, da Filmes de Plástico [produtora do longa], que batalharam para esse edital existir”, afirmou em entrevista ao Yahoo. “Quando um filme como esse tem um êxito, ele está carregando uma história, uma história de luta de muitas pessoas”.

"Marte Um" acompanha a vida de quatro membros de uma família composta por pessoas negras e de classe média baixa, que vivem na periferia de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A trama acontece durante os últimos meses de 2018, logo após as eleições presidenciais e mostra como eles enfrentam as dificuldades criadas pelo cenário sociopolítico brasileiro.

Desde que o filme foi o grande escolhido para representar o Brasil na disputa pela estatueta, o cineasta afirmou que vem recebendo apoio de muitas pessoas, incluindo dos diretores que também tiveram suas obras entre os seis pré-selecionados. “Só se chega em lugares com energia coletiva, essa é a forma que eu acredito. Todo mundo trabalha junto para poder enfim construir uma coisa que pode ser melhor e mais justa para todo mundo”, afirmou.

Incentivo ao audiovisual brasileiro

Gabriel Martins também acredita que o filme só saiu do papel por conta das políticas públicas dos governos anteriores, que foram voltadas para o incentivo da produção audiovisual brasileira por pessoas pretas e periféricas.

"Mesmo diante de uma ausência completa do poder público, de uma falha desse poder público em entender as questões de pessoas periféricas pretas e pobres, no fim das contas, existem algumas mobilizações acontecendo que eu acredito que mostram resultados e tem um impacto que a gente não via há 30 anos, há 20 anos”, disse Gabriel Martins.

“'Marte Um' há 20 anos sequer existiria, porque não tinha nenhum edital voltado para pessoas pretas, não tinha essa atenção para cultura negra. Eu acredito que estamos vivendo um outro tempo nesse assunto por mais que a gente ainda tem muita coisa para conquistar", pontuou.

Uma história distópica do Brasil

O cineasta Gabriel Martins decidiu contar a história "Marte Um" através da ficção científica por sua visão de construção de identidade enquanto pessoa negra. “Eu sinto que a cada dia a gente tem conseguido entender mais as nossas tradições e os nossos traumas para tentar olhar como reconstruir o futuro melhor", explicou.

Em sua passagem pelo festival de Sundance este ano, o diretor percebeu que havia "um desejo de ver mais complexidade em nossos filmes" entre a crítica internacional, já que um dos grandes nomes do cinema negro brasileiro é "Cidade de Deus" (2002).

"Muita coisa de fato mudou, tem muito mais filmes negros, mas esse filmes não chegam lá. Tive conversas com muitos críticos e ‘Marte Um’ chama a atenção para coisas que não são muito tradicionais, no que eles entendem como cinema brasileiro”, completou.