Difícil falar de um filme tão complexo quanto ‘A Chegada‘ em tempos que tudo pode ser encarado como spoiler, mas vamos tentar. O filme do canadense Denis Villeneuve, que estreia no Brasil nesta quinta (24), chega aos cinemas como uma das ficções-científicas mais elogiadas dos últimos tempos. Tem também um final polêmico, que vem dividindo a crítica mundial, e do qual não iremos dar detalhes aqui.

Mais do que uma história sobre alienígenas, o longa é principalmente um estudo do comportamento humano diante do desconhecido. Este desconhecido, no caso, são doze naves extraterrestres que chegam de repente à Terra e se instalam em localidades diferentes do planeta, simplesmente paralisadas.

Diante do frenesi que o evento causa, a linguista Louise Banks (Amy Adams) é chamada pelo exército norte-americano. Sua missão é ver os ETs de perto e desenvolver uma forma de comunicação com eles, para assim descobrir o que, afinal de contas, aquelas criaturas querem por aqui.

Na construção deste suspense inicial, ‘A Chegada’ é excelente. Poucas vezes um filme deste gênero construiu uma atmosfera tão envolvente, a ponto de fazer o público sentir na pele a adrenalina da personagem de Amy, cuja performance pode lhe valer a sexta indicação ao Oscar da carreira, frente a algo tão extraordinário.

Isso é um mérito de Villeneuve, que usa planos longos e às vezes posiciona a câmera nas costas da protagonista, nos levando junto com ela entre os corredores da base militar improvisada e dentro da concha, a nave dos visitantes. Vale lembrar que o cineasta já está em pré-produção da aguardada sequência de ‘Blade Runner’, que deve ser lançada em 2017, e aqui se mostra totalmente capaz de fazer algo em nível próximo do cultuado original.

Também é pertinente a questão que o filme levanta: por que a humanidade assumiria logo de saída que esta invasão é necessariamente um ataque? Tal suposição pode comprometer o trabalho de Louise, como ela deixa claro em uma divertida anedota (falsa) sobre o primeiro contato de exploradores da Austrália com os aborígenes nativos.

Quando o verdadeiro motivo da visita é revelado, no entanto, fica uma certa frustração. ‘A Chegada’ ganha um dispensável tom piegas, e entra em cena a sensação de que o potencial prometido pelo longa não foi totalmente entregue.