Como sair de um relacionamento abusivo?
Muito se fala em como identificar um relacionamento abusivo, mas serĂĄ que jĂĄ paramos para pensar em como sair deles? Sim, parece que identificar e abandonar uma situação de violĂȘncia, seja fĂsica ou moral, Ă© uma ação Ăłbvia, porĂ©m, na realidade as coisas nĂŁo funcionam bem assim.
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Segundo um estudo da Universidade de Michigan, desenvolvido pelo professor Daniel Saunders, as mulheres tĂȘm dificuldade em sair desses relacionamentos por muitos fatores, sendo a falta de recursos um dos principais.
Ă comum em relacionamentos desse tipo o abusador ter controle do dinheiro da mulher e da sua vida como um todo, muitas vezes impedindo que ela trabalhe. Ou seja, deixar o relacionamento para se sustentar sozinha passa a ser um desafio bastante grande. Se o casal tem filhos, a situação tambĂ©m complica - e Ă© comum mulheres manterem o relacionamento por conta dos filhos ou por medo deles sofrerem as consequĂȘncias da sua decisĂŁo.
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"A maior dificuldade para deixar o relacionamento abusivo estĂĄ diretamente ligada Ă eficiĂȘncia da manipulação emocional combinada com a pressĂŁo que as mulheres sofrem para estarem em um relacionamento", explica tambĂ©m Isabela del Monde da Rede Feminista de Juristas.
Segundo ela, fomos criadas para sentir que temos valor quando estamos em uma relação - as solteiras sĂŁo mal vistas, "ficam para a titia". Como resultado dessa construção social, entramos em um estado de confusĂŁo mental: Ă© a soma desses valores ao fato de que o homem que diz que ama vocĂȘ tambĂ©m Ă© o que te violenta. E deixar uma relação dessas torna um motivo de conflito interno muito grande.
De acordo com Saunders, outro motivo que torna esse tĂ©rmino mais complicado Ă© a falta de apoio de familiares e amigos, que muitas vezes nĂŁo reconhecem a violĂȘncia presente no relacionamento. Fora isso, o medo da retaliação: estudos mostram que os riscos de homicĂdio sĂŁo maiores depois que a vĂtima deixa o agressor.
Como sair de um relacionamento abusivo?
O primeiro passo, de acordo com Isabela, é a mulher entender o seu papel na relação: "à genuinamente compreender e aceitar que não hå nada que a mulher faça ou deixe de fazer que causa os comportamentos violentos do homem e que não hå nada que ela possa fazer para transformar aquele homem, jå que as pessoas mudam apenas porque elas querem", diz.
A advogada explica que é importante compreender que a socialização masculina - ou seja, nutrir a ideia que o homem, em algum momento, vai se sentir motivado a mudar por causa do amor que diz sentir pela mulher -, subalterniza as mulheres e faze mal à elas. E esse reconhecimento é uma maneira de caminhar em direção à libertação de uma situação de abuso. "à o primeiro passo para recobrar o poder sobre si mesma!", continua.
Outro ponto importante Ă© buscar uma rede de apoio. Pessoas que amem e tenham muita escuta livre de julgamentos, alĂ©m de paciĂȘncia. Deixar um relacionamento abusivo nĂŁo Ă© um processo simples ou rĂĄpido, e a mulher vai passar por momentos de dĂșvida e insegurança. Essas pessoas, sejam amigos ou familiares, vĂŁo precisar relembrĂĄ-la a todo momento o quanto ela Ă© importante e merece continuar o caminho em direção a uma vida mais livre.
"Acredito que o recomeço da vida depois da relação abusiva Ă© muito melhor, mais alegre e mais transformador se feito prĂłximo de um cĂrculo de mulheres. EntĂŁo recomendo muito que uma mulher busque estar ou construir uma irmandade com as mulheres da sua vida", recomenda Isabela.
Ă preciso notar tambĂ©m que em casos de violĂȘncia fĂsica, Ă© importante que as autoridades sejam avisadas e que esse processo passe por uma acompanhamento rigoroso, inclusive para evitar a possibilidade de uma violĂȘncia futura gerada por raiva e vingança.
Fora isso, o aconselhamento psicolĂłgico tambĂ©m Ă© essencial para ajudar na recuperação de um mulher que acabou de deixar um relacionamento abusivo. "A maior dificuldade, de acordo com minha percepção, Ă© se reencontrar consigo mesma e voltar a se sentir valorosa e importante e capaz, jĂĄ que esse tipo de abuso destrĂłi a auto confiança. O ideal, acredito eu, para superar isso Ă© buscar apoio de especialistas de saĂșde mental, como analistas ou terapeutas, e conviver proximamente de mulheres que vocĂȘ ama e confia", termina a advogada.
Tenha em mente tambĂ©m que Ă© possĂvel pedir ajuda em casos de violĂȘncia contra a mulher de forma anĂŽnima, discando 180.