Como o Coldplay piorou o seu som e se tornou a maior banda do mundo
Resumo da notĂcia:
Coldplay se consolida como maior banda do mundo após lançar ålbuns questionåveis
Grupo britĂąnico se lançou com mĂșsicas tristes e delicadas e hoje se caracteriza por faixas alegres e superficiais
Como visão de mercado, mudança na sonoridade se mostra um grande acerto
O Coldplay Ă© a maior a banda do mundo. Para quem acha que nĂŁo Ă© bem assim, basta ver a procura por ingressos da turnĂȘ "Music of the Spheres" no Brasil. Por causa da alta demanda, os mĂșsicos liderados por Chris Martin farĂŁo oito apresentaçÔes no paĂs, todas com lotação mĂĄxima, em pleno momento de penĂșria econĂŽmica local. Quem acompanha o quarteto britĂąnico sabe que tal estĂĄgio de grandiosidade no show business foi alcançado pouco a pouco graças a uma incomum mistura de talento, profissionalismo e, o mais curioso, uma surpreendente piora no som do grupo com o passar dos anos.
Dependendo da sua idade, Ă© possĂvel que vocĂȘ se lembre do Coldplay do começo do sĂ©culo. Tida como uma das bandas mais talentosas da sua geração, o grupo deu inĂcio Ă sua trajetĂłria logo em 2000, com o Ăłtimo "Parachutes". Chamando a atenção pela melancolia tanto no canto quanto nos versos, Chris Martin se apresentava ao pĂșblico como um compositor capaz de compor baladas delicadas como "Shiver" e "Yellow" e outras faixas levemente esquisitas que remetiam ao Radiohead, como "High Speed".
Dois anos depois, o Coldplay se firmava como um "grupo de belas mĂșsicas tristes" com "A Rush of Blood to the Head". Com faixas como "Politk", "In My Place" e "Clocks", a banda se aproximava da sonoridade de arena dos irlandeses do U2, sem deixar de ser melancĂłlica. Veio do disco o maior hit da banda atĂ© hoje, "The Scientist", cujos versos "NinguĂ©m disse que seria fĂĄcil. Mas tambĂ©m ninguĂ©m nunca disse que seria tĂŁo difĂcil" parece resumir perfeitamente a fase de ouro da banda.
A banda ainda faria mais dois grandes discos: "X&Y", de 2005, que marcou o inĂcio da parceria do Coldplay com o lendĂĄrio produtor Brian Eno (no ĂĄlbum, ouvido no sintetizador), e "Viva la Vida or Death and All His Friends" (este jĂĄ produzido por Eno), disco conceitual lançado em 2008 que pode ser visto como a despedida artĂstica da banda.
Na Ă©poca de lançamento do "Viva La Vida", Chris Martin falava da ambivalĂȘncia das composiçÔes. Ele tambĂ©m anunciava um desejo prĂłprio de fazer algo diferente, que definia como "passar do preto-e-branco para o colorido". O sucesso do videoclipe da faixa-tĂtulo - que conta com mais de 700 milhĂ”es de views no Youtube - possibilitou que o Coldplay ganhasse pĂșblico o suficiente para lotar estĂĄdios, talvez o grande sonho do seu vocalista. A partir desse momento, a histĂłria do grupo ganharia outros contornos.
A era das grandes arenas
Ainda sob a batuta de Brian Eno, o Coldplay lançaria em 2011 um disco que mostraria a sua nova posição enquanto marca global. JĂĄ consolidado no show business, o grupo mostrava a sua carta de novas intençÔes na capa multicolorida de "Mylo Xyloto". As mĂșsicas depressivas haviam sido superadas e trocadas por outras muito mais alegres, por vezes histriĂŽnicas, feitas para o pĂșblico que abarrota as arenas.
Em uma Ă©poca de inĂcio de vendas digitais de mĂșsicas, "Mylo Xyloto" quebrou recordes de downloads no Reino Unido, superando atĂ© mesmo Adele e Lady Gaga nos charts. A mudança na sonoridade espantou muitos antigos fĂŁs, ligados ao britpop e Ă mĂșsica alternativa, mas possibilitou que o grupo se aproximasse de um pĂșblico novo e maior, ligado aos artistas pop.
Neste perĂodo de mudanças, o Coldplay tambĂ©m se aperfeiçoou musicalmente. A banda passou a tocar melhor e Chris Martin, antes visto como um cantor triste na beira do piano, passou a ser visto como um legĂtimo "frontman", capaz de levantar multidĂ”es. A ideia de se tornar uma banda de proporçÔes gigantescas parecia divertida aos integrantes.
"Melhoramos como mĂșsicos e realmente nos divertimos. Continuamos com fome de fazer mĂșsica e estamos bem animados com as mĂșsicas novas que estamos criando", dizia o baixista Guy Barryman ao portal Terra na Ă©poca. AlĂ©m disso, os shows deixarĂŁo de ser meras apresentaçÔes musicais para se tornarem verdadeiros espetĂĄculos circenses, com muita luz e pirotecnia.
Na Ă©poca do "Mylo Xyloto", por exemplo, a banda chegou a investir mais de 4 milhĂ”es de libras na 'Xylobands', pulseiras da turnĂȘ que mudavam de cor. O acessĂłrio virou marca registrada dos shows da banda por muitos anos, unindo-se visualmente nos estĂĄdios com muitas chuvas de papel picado colorido e bolas gigantes rolando na plateia. A estĂ©tica, embora seja chamada de "coxinha", virou marca registrada.
Bom de palco, o Coldplay parece se importar cada vez menos com o estĂșdio. A banda lançou o ligeiramente introspectivo "Ghost Stories" em 2014, voltou a soar animada e farofeira em "A Head Full of Dreams" e recentemente apostou em mĂșsicas com nomes de emoji em "Music of the Spheres", abusando da positividade tĂłxica. De positivo sĂł conseguimos citar "Everyday Life", de 2019, um disco que consegue se sobressair artisticamente com faixas como âArabesqueâ, nĂŁo por acaso uma sobra de estĂșdio de "Viva La Vida".
Quem compra o ingresso para o show do Coldplay, claro, pode atĂ© discordar que a banda perdeu qualidade nas composiçÔes nos Ășltimos anos. Mas Ă© difĂcil encontrar alguĂ©m que nĂŁo afirme que os melhores trabalhos da banda no estĂșdio foram os quatro primeiros. Os prĂłprios mĂșsicos do Coldplay, aliĂĄs, nĂŁo negam que os seus maiores hits estĂŁo naqueles ĂĄlbuns calminhos e depressivos na hora de escolher a setlist dos shows. FĂŁs old school da banda, fiquem tranquilos: nĂŁo hĂĄ apresentação do Coldplay sem choro em "The Scientist" , "Clocks" e "Fix You".
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