Como a mudança climática está afetando a saúde mental das pessoas: dicas para lidar com a "solastalgia"
A preocupação com o meio ambiente nunca foi tão grande como nos dias de hoje.
Segundo a dra. Jen Hartstein, colaboradora do Yahoo Vida e Estilo, a sensação de perda em relação ao meio ambiente tem impacto sobre a saúde mental das pessoas. Os psicólogos criaram até um termo para descrever o desespero relacionado à mudança climática: "solastalgia".
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"Solastalgia é a ideia de que o clima está deixando as pessoas tristes, ansiosas e com uma sensação de impotência porque a situação é muito imprevisível. Elas se sentem perdidas mesmo quando estão em casa", comenta Hartstein, que é psicóloga familiar.
Hartstein explica que o lar é considerado um lugar seguro, e a destruição de casas pelos desastres ambientais ameaça a sensação de conforto e paz que esse lugar transmite. Afeta até mesmo quem não corre perigo imediato, pois o impacto de toda essa situação sobre a saúde mental é global, já que a casa de todos — o planeta Terra — está correndo perigo.
Retome o contato com a natureza
Encontrar uma forma de ter contato positivo com a natureza neste momento é essencial para a saúde mental. Hartstein recomenda procurar um lugar seguro para recuperar a sensação de paz que a natureza transmite.
"Quando surge essa sensação de desconexão com a Terra e a solastalgia se destaca, é bom procurar formas de ter contato com a natureza ou ir a lugares que transmitam a sensação de segurança e proteção. Por exemplo, um cantinho em um parque que nunca muda. Visitar esse tipo de ambiente com a maior frequência possível ajuda a recuperar o equilíbrio necessário para enfrentar o dia a dia", explica.
Segundo Hartstein, algumas opções para quem não tem a possibilidade de ter contato com a natureza é colocar mais plantas em casa, assistir a filmes sobre a natureza ou ver imagens na internet. Essas técnicas podem ajudar a recuperar a sensação de conexão e reduzir um pouco a ansiedade em relação ao meio ambiente.
Tome medidas
A solastalgia e o impacto enorme da mudança climática podem dar uma sensação de impotência. Até mesmo quem mora longe das áreas afetadas sente compaixão, e ninguém gosta de ver outras pessoas sofrendo. Segundo Hartstein, transformar esses sentimentos em ações pode ajudar.
"Há muitas maneiras de encontrar essa conexão e sentir que somos capazes de promover mudanças", diz ela.
"Podemos resgatar animais? Podemos fazer doações para a Cruz Vermelha, que ajuda as pessoas que estão perdendo suas casas? Ou participar de organizações ecológicas para trabalhar em causas relacionadas à mudança climática? A ideia é descobrir como colaborar com a comunidade na qual se vive para deixar o mundo melhor e mais seguro para todos", explica.
Escape do ciclo das "notícias ruins"
Muitas pessoas estão vivendo em ansiedade constante, com novos motivos de preocupação aparecendo no feed de notícias todos os dias. Segundo Hartstein, é importante reconhecer o impacto dessas informações sobre a saúde mental.
"Uma das minhas principais recomendações é criar suas próprias categorias para que as notícias não formem uma montanha de más notícias. Por exemplo, um dia pode ser dedicado a ler tudo o que é importante em relação ao coronavírus. O dia seguinte pode ser voltado para o que está acontecendo com o clima ou os incêndios na Califórnia, e assim por diante", explica Hartstein ao Yahoo Vida e Estilo.
"Ver todas essas notícias de uma vez é avassalador e deixa qualquer pessoa desanimada", reflete.
Procure boas notícias
"É muito fácil entrar no círculo vicioso das notícias ruins e pensar que tudo é negativo. Por isso, é preciso procurar as boas notícias. Tem muita coisa boa acontecendo, muitos heróis, muitas pessoas que fazem a diferença. Encontrar essas histórias dá uma sensação de alívio, clareza e potência nesse momento em que tudo parece estar fora do nosso controle", recomenda Hartstein.
Converse com outras pessoas
Para quem sente que a própria saúde mental foi muito afetada pela mudança climática, Hartstein recomenda conversar com amigos, parentes e a comunidade. "Muitas pessoas estão sentindo a mesma preocupação, então é bom falar com mais gente e ver como todos estão, encontrar o sentido de pertencimento a uma comunidade", comenta ela.
A ansiedade e a tristeza costumam ser sofridas em silêncio, mesmo quando as pessoas mais próximas também se sentem assim. Hartstein diz que as conversas sobre esses sentimentos e preocupações muitas vezes são um impulso para tomar medidas que geram mudanças.
Solastalgia pode até ser um termo novo, mas cada vez mais gente está passando por isso, pois a mudança climática continua a mostrar seus efeitos e a ameaçar nossa sensação de segurança. Enquanto enfrentamos esses desafios, Hartstein recomenda sempre buscar ajuda quando a sensação de medo em relação à mudança climática ficar grande demais.
"Ninguém precisa passar por isso sozinho", conclui.