Bolsonaro perdeu apoio de streamers, e negros se firmaram maioria gamer
BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - Num ano marcado por consoles novos, ficou evidente a hegemonia dos smartphones entre os gamers brasileiros ao longo de 2021.
Segundo a Pesquisa Game Brasil, 41,6% dos gamers afirmaram preferir jogar no celular, enquanto sĂł 25,8% preferem consoles.
No Brasil do ano que agora se encerra, nĂŁo dĂĄ para dizer que videogame seja coisa sĂł de rico. Quase metade dos que consomem jogos, 49,7%, sĂŁo das classes C, D e E. Cerca de um terço dos que jogam videogame vem de famĂlias de renda de atĂ© R$ 2.090. Outro terço tem renda familiar de atĂ© R$ 4.180.
Segundo a pesquisa, 60,8% dos que jogam em celulares sĂŁo das classes C, D e E. A pesquisa revelou ainda que a maioria dos gamers nĂŁo Ă© formada por brancos Â50,3% sĂŁo pretos ou pardos.
SĂł que os consoles continuam pouco acessĂveis. Dos que jogam nesse tipo de plataforma, 59% sĂŁo das classes A e B.
Em agosto, o governo anunciou uma redução de impostos sobre consoles, acessĂłrios e mĂĄquinas de jogos de vĂdeo. Mas o aceno de Bolsonaro aos gamers nĂŁo impediu que o PlayStation 5 ficasse acima dos R$ 5.000
O aceno também não impediu que parte importante de sua base virasse as costas ao presidente. Um dos maiores streamers de games do mundo, o brasileiro Alexandre Borba, o Gaules, antes apoiador de Bolsonaro, virou oposição.
"Um presidente que estå fazendo um péssimo trabalho, que não é empåtico em nada, um presidente que vai contra todos os valores que a gente prega aqui dentro da tribo", disse Gaules em uma live.
Gabriel Toledo, o FalleN, outra figura de grande influĂȘncia no cenĂĄrio brasileiro de e-sports, chegou a receber em 2019 uma ligação de Bolsonaro, a quem o proplayer atendeu com simpatia. A pauta da conversa era a redução de impostos sobre games e o clima era de camaradagem.
JĂĄ em 2020, apĂłs pronunciamento desastroso do presidente em meio ao inĂcio da pandemia, FalleN adotou uma postura mais crĂtica e disse que Bolsonaro estava dando um "tiro no pĂ©".
Na seara dos AAA, os games blockbuster, 2021 foi um ano de expectativas um tanto frustradas. TĂtulos aguardados como "God of War: Ragnarok", "Horizon Forbidden West", "Hogwarts Legacy", "Prince of Persia: Sands of Time Remake", "Gran Turismo 7" e "Elden Ring" foram adiados.
Não que esse tipo de atraso seja uma novidade no mundo dos games, mas num ano pós-"Cyberpunk 2077", que foi lançado cheio de bugs após muito hype em torno do jogo, parece que os publishers ficaram mais precavidos.
Mas isso não quer dizer que não tenha havido grandes lançamentos neste ano. Vale destacar "Deathloop", "Psychonauts 2" e "Resident Evil Village".
No Game Awards, o Oscar dos games, quem levou o prĂȘmio de jogo do ano foi "It Takes Two", plataforma colaborativa que conta a histĂłria fofa de um casal fofo transformado em brinquedos fofinhos Âbem diferente dos anos anteriores, em que os vencedores foram tĂtulos violentos como "God of War", "The Last of Us 2" e "Sekiro: Shadows Die Twice".
Entre as novidades no mobile, veio "PokĂ©mon Unite", do gĂȘnero Moba Âarena de batalha multiplayer online, na sigla em inglĂȘsÂ, que tambĂ©m estĂĄ disponĂvel no Nintendo Switch. Rechaçado por boa parte da crĂtica especializada, o game se tornou o mais baixado no mĂȘs de setembro, segundo dados da consultoria Sensor Tower.
Entre os indies, vale destacar os brasileiros "Dodgeball Academia" e "Unsighted", ambos bem recebidos pela crĂtica internacional.
O ano tambĂ©m deu sinais de que 2022 possivelmente verĂĄ novos campos de batalha no mundo dos games. Dois aguardados jogos jĂĄ deram um gostinho de polĂȘmica mesmo antes de serem lançados. "God of War: Ragnarok" foi atacado por conservadores pelo fato de o jogo, embebido em mitologia nĂłrdica, ter uma personagem negra, Angrboda. O mesmo jogo tem um semideus grego, branco, metendo machadas em criaturas mitolĂłgicas nĂłrdicas, mas isso parece nĂŁo ter incomodado.
JĂĄ Aloy, protagonista de "Horizon Forbidden West" recebeu crĂticas pelo seu visual, que, segundo os desgostosos, estaria masculino demais. Houve quem jogasse um filtro de Instagram na personagem para fazer dela uma Barbie pĂłs-apocalĂptica.