
Norte-americano sente a patrulha masculina sobre o corpo das mulheres
O norte-americano Yousef Saleh Erakat resolveu experimentar um pedacinho dos perrengues pelos quais uma mulher tem que passar todos os dias ao usar uma roupa mais curta ou apertada. Depois de ouvir as reclamaçÔes de uma amiga sobre como era difĂcil ser uma garota, entre outras coisas, pela forma como as pessoas ficavam secando o corpo dela dependendo da roupa que ela estava usando, Erakat vestiu uma calça legging e foi para o estacionamento de um supermercado. Com parte do corpo âescondidaâ dentro do porta-malas do carro, ele se tronou alvo de olhares e comentĂĄrios das pessoas que passavam pelo lugar.
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No fim das contas, a forma como Erakat conduz a situação transforma tudo em uma grande brincadeira. Ainda assim, Ă© impossĂvel que as pessoas realmente encaram de forma meio invasiva e fazem comentĂĄrios sobre a bunda do moço enfiada nas calças justĂssimas. Confrontadas sobre a forma como agiram, a maioria se justificou dizendo pensar se tratar de uma garota. Como se o fato de se tratar de um corpo feminino desse aos passantes a liberdade de falar ou fazer o que bem entendesse. Bizarro, nĂ©?
O vĂdeo nos leva de volta aquela velha questĂŁo da tĂȘnue linha que separa a paquera da abordagem grosseira e invasiva. Afinal, o que passa na cabeça de um cara para que ele ache que tem o direito de dizer o que lhe passa pela cabeça a uma moça completamente desconhecida que em nenhum momento mostrou interesse por ele? Quando assisto algumas cenas e ouço alguns relatos, penso que evoluĂmos bem pouco daquele estĂĄgio dos homens das cavernas dos desenhos que conquistam suas mulheres com tacapes e saem por ai arrastando-as pelos cabelos. SerĂĄ mesmo que a ideologia reinante Ă© de que as mulheres estĂŁo Ă disposição de qualquer homem que deseje toma-las para si? Mesmo de forma nĂŁo consentida? Mesmo que a força? Infelizmente, eu penso que sim. Pergunte a qualquer mulher com idade entre 15 e 40 anos e ela me darĂĄ razĂŁo.
Essas moças sĂŁo abordadas cotidianamente de forma violenta e invasiva e nĂŁo contam com nenhum tipo de respaldo ou proteção por parte da sociedade. Quando se opĂ”em as investidas correm sĂ©rios riscos de serem agredidas fĂsica e sexualmente. Se agredidas, precisam enfrentar o descaso e a desconfiança das autoridades, dos parentes e amigos que jogam nelas a culpa pelo crime do qual foram vĂtimas. Ă como se todo o circo estivesse armado para dar as mulheres duas opçÔes: ou elas se sujeitam aos desmandos do comportamento masculino ou enfrentam a condenação por parte significativa da sociedade. Ă triste e revoltante ao mesmo tempo na mesma medida.
Sabe o que eu acho mais engraçado? Esses garotĂ”es que nĂŁo pensam duas vezes em gritar âgostosaâ para a moça parada na calçada ou passar a mĂŁo na bunda da menina que encontram na balada sĂŁo os mesmos que se sentem ofendidos quando sĂŁo âpaqueradosâ por outros caras. Coloquei a palavra entre aspas porque a abordagem, em casos como esse, sĂŁo infinitamente mais sutis do que a que as mulheres sĂŁo obrigadas a encarar. E nĂŁo me venham com essa de que nĂŁo Ă© a mesma coisa. Porque Ă©. Nos dois casos temos pessoas abordando desconhecidos sem consentimento. A Ășnica diferença Ă© que quando falamos de homens e mulheres temos a hegemonia social que dĂĄ ao homem o direito de fazer qualquer coisa. E no caso dos gays existe o preconceito nos negando atĂ© mesmo o direito de existir. Mas isso Ă© assunto para outro post. O importante Ă© ter em mente as inĂșmeras situaçÔes difĂceis a que as mulheres estĂŁo sujeitas todos os dias simplesmente por serem mulheres.
*TĂĄ com dĂșvida se casa ou compra uma bicicleta? NĂŁo sabe se liga ou nĂŁo para o pretĂȘ do escritĂłrio? Precisa de uma dica de receita para impressionar os amigos? Tem alguma histĂłria boa para dividir? Quer jogar conversa fora? Manda um e-mail para amigoo_gay@yahoo.com.br. Quem sabe eu nĂŁo tenho um bom conselho para te dar.