"#FicaGabriel": por que queremos manter homens abusivos no BBB?

Mesmo após bronca de Tadeu por agressões a Bruna, modelo tem torcida forte por segunda chance no programa. Perdoamos rápido demais?

Gabriel em ensaio oficial para o BBB23 (Foto: Globo/ Fábio Rocha)
Gabriel em ensaio oficial para o BBB23 (Foto: Globo/ Fábio Rocha)

Antes mesmo que o paredão desta semana fosse formado no Big Brother Brasil 23, a hashtag #FicaGabriel já estava entre as mais comentadas no Twitter. Os apoiadores dele sabiam que o modelo Gabriel Tavares corria risco de ir à berlinda, especialmente após cultivar desafetos dentro do programa, como Fred Nicácio, Larissa e Domitila, levar uma bronca do apresentador Tadeu Schmidt por atitudes abusivas em relação a seu affair, a atriz Bruna Griphao.

De fato, no programa de domingo (29), a previsão se confirmou e ele foi emparedado ao lado de Domitila e Cezar, e a tag pedindo sua permanência na casa só subiu.

Mas por que, mesmo depois de uma discussão pública sobre machismo e abuso, Gabriel ainda tem uma torcida forte no reality – inclusive de mulheres?

Em geral, tratamos os homens – principalmente os jovens adultos, como Gabriel, que tem 24 anos – como meninos, que “não sabem o que estão fazendo” e merecem uma segunda chance. Enquanto meninas, mesmo adolescentes, são tratadas como responsáveis por suas atitudes desde muito novas.

Não é por acaso que meninas são ensinadas a cumprir tarefas domésticas desde muito cedo enquanto os meninos no máximo secam a louça; ou que meninas que engravidam na adolescência muitas vezes têm pouco ou nenhum apoio porque precisam “arcar com as consequências”, enquanto homens deixam de assumir a paternidade e tudo certo. Vem dessa ideia de amadurecimento tardio um sentimento coletivo de condescendência por Gabriel.

Basta voltar dois anos no programa para lembrar que, quando Karol Conká teve atitudes abusivas com Lucas Penteado e outros confinados, foi massacrada pelo público: saiu com o maior índice de rejeição da história do programa, perdeu contratos e recebeu centenas de ataques nas redes sociais, que escalaram inclusive para ameaças de morte.

Nada disso é razoável – nem com Karol, nem com Gabriel. Mas fato é que os dois participantes, uma mulher negra e um homem branco, encararam tratamentos em diferentes frente a atitudes agressivas que demonstraram no programa.

Desde que ouviu o “toque” de Tadeu, há pouco mais de uma semana, Gabriel pediu perdão a Bruna, à família dela e à sua família, chorou, disse que estava passando pela pior semana de sua vida e prometeu mudar. Mas isso é suficiente para perdoá-lo – ou, ainda, premiá-lo – por ameaçar dar cotoveladas na boca da namorada? Ou por empurrá-la para tentar evitar que ela falasse?

Quando o assunto é violência de gênero e relacionamentos abusivos, nossa tendência é naturalizar o comportamento agressivo do homem porque, de forma coletiva, estamos acostumadas a ele – prova disso é que, no Brasil, oito mulheres são agredidas por minuto, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

“A cultura brasileira é extremamente machista e, embora as discussões sobre relações tóxicas sejam cada vez mais abertas e recorrentes, ainda somos um país com índices alarmantes de violência doméstica”, explica a psicóloga Lais Sellmer, ao Yahoo, ao comentar a relação entre Gabriel e Bruna. “É algo que a gente vê repetidas vezes dentro de casa, entre amigos, na televisão, e que, por isso, pode se tornar naturalizado no nosso inconsciente”.

A história se repete

Vale lembrar que essa não é a primeira vez que o público do BBB escolhe ficar do lado de um homem com atitudes claramente machistas e abusivas.

O caso mais emblemático é o de Marcos Harter, na edição 17. O relacionamento do médico com a então estudante Emilly Araújo virou caso de polícia quando ele foi expulso, na última semana do programa, após a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher instaurar um inquérito para apurar as agressões físicas.

Harter deixou o programa, mas como um dos favoritos ao prêmio. Meses depois, ele foi escalado para o elenco de "A Fazenda" e – pasmem – ficou em segundo lugar.

Mesmo fora do reality, não são poucas histórias que conhecemos de famosos que agrediram verbal, psicológica ou fisicamente suas namoradas e foram perdoados, mantendo a carreira intacta depois disso.

Chris Brown, Johnny Depp e Cristiano Ronaldo são só os primeiros nomes que me vêm à mente, mas tenho certeza que você consegue pensar em outros sem muito esforço.