Alimentação e bem-estar: como o que você come mexe com suas emoções
Que atire o primeiro bombom quem nunca comprou um chocolate (ou qualquer outra guloseima) porque achou que me-re-cia/pre-ci-sa-va de uma recompensa após um dia difícil no trabalho. Pedir uma massa bem quentinha pelo aplicativo de delivery quando bate a bad também é de lei. O fato é que relacionar alimentação e bem-estar é intuitivo, ou pelo menos algo que aprendemos desde pequenos, quando nos oferecem leite materno para nos consolar ou um pirulito para nos entreter.
"Alimentos ricos em açúcar e carboidrato simples, por exemplo, fazem a gente se sentir melhor porque ativam instantaneamente a produção de serotonina e outros neurotransmissores ligados ao prazer", explica José Alves Lara Neto, vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). "Por outro lado, além de essa sensação ser muito breve, o consumo excessivo desses mesmos alimentos irrita as glândulas suprarrenais, responsáveis pela liberação do cortisol e da adrenalina, hormônios associados ao estresse e à ansiedade", completa.
Para piorar, a glicemia (glicose no sangue) nas alturas coloca todo o organismo em um estado de sobrecarga e inflamação constante. "A maneira como o cérebro trabalha e reage aos estímulos não está livre desse prejuízo", reforça o especialista. A ideia, no entanto, não é vilanizar nem endeusar esse ou aquele alimento. "Com moderação, em um contexto de dieta equilibrada, tudo está liberado", emenda.
Mesmo assim, alguns nutrientes frequentemente aparecem como mocinhos em estudos sobre o tema — de novo: sem excessos. "Vitaminas do complexo B, ácido fólico, ferro, ácidos graxos [ômegas], selênio, zinco e triptofano trazem inúmeros benefícios à saúde mental", avalia José. Não à toa, um dos cardápios mais aclamados pela ciência foi baseado no menu dos países da bacia do Mar Mediterrâneo, repleto de pescados, azeite e vegetais.
É importante lembrar que mudar somente a alimentação não faz milagre, embora ajude muito. O trabalho de psicólogos e psiquiatras é crucial para administrarmos nossas emoções da melhor maneira possível. "Costumo falar que viver sem alegria é o maior dos fatores oxidativos. Nesse estado crônico de insatisfação, comer bem não é o suficiente para melhorar a qualidade de vida", conclui o vice-presidente da Abran.