Bolsonaro, Melania e Ocasio-Cortez: Afinal, o que moda tem a ver com política?
Enquanto instabilidades políticas e crise climática estampam as capas dos principais veículos do mundo, as seções de moda e estilo (como esta) continuam atraindo interessados de várias partes. Há quem ainda considere o assunto frívolo e menos digno de relevância ou até totalmente incompatível com os outros temas tidos como “mais sérios”.
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Mas, a ideia de moda como ato político não é algo estranho, muito menos novo. Designers usam seus produtos como atos de protesto há muitas décadas e hoje, na era do Instagram, a moda tem um potencial ainda maior de influenciar na política.
No início dos anos 70, a estilista Zuzu Angel denunciou os horrores da ditadura brasileira, quando teve seu filho sequestrado e assassinado, em um desfile emocionante no consulado brasileiro em Nova York. As peças apresentavam faixas pretas em sinal de luto e bordados que remetiam ao clima de guerra pelo qual o Brasil passava naquele momento.
Quando, a primeira dama americana Melania Trump usou uma parka com os dizeres “I really don’t care” (‘eu realmente não ligo’) durante visita a um hospital infantil repleto de crianças imigrantes ilegais separadas dos pais pelo governo de seu marido, ela passou uma mensagem política que deixou o mundo indignado.
Ainda nos Estados Unidos, há algumas semanas, a parlamentar Alexandria Ocasio-Cortez e suas colegas do partido democrata se vestiram de branco, uma cor historicamente associada ao movimento sufragista, durante o discurso de Trump. Um lembrete de que elas vão aproveitar todas as oportunidades que tiverem para bater de frente ele e os membros do partido republicano.
Alexandria, aliás, é mestre na arte de usar a moda como ato político: durante sua cerimônia de posse ela também usou a cor branca, combinando com argolas douradas e batom vermelho como forma de representar as mulheres do Bronx, seu bairro de origem.
Em um exemplo contrário, mas um pouco mais próximo da realidade brasileira atual, o presidente foi muito criticado (inclusive por muitos de seus eleitores) quando decidiu usar uma roupa extremamente maltrapilha para anunciar a reforma da previdência em fevereiro deste ano. Usando blazer, camiseta, uma calça, que parecia de pijama e chinelos, ele posou ao lado de ministros de terno e gravar para a foto oficial do anúncio.
Depois de vários comentários nas redes sociais e em sites de notícias, algumas publicações políticas decidiram fazer uma análise mais aprofundada da imagem e concluíram que o presidente decidiu usar uma roupa totalmente fora do dress code pedido pelo ambiente e pela situação, em uma tentativa de tirar o foco da discussão sobre a reforma e trazer esse foco para si, parecendo um “homem simples” e do povo. Se conseguiu ou não atingir o objetivo, é outra história, mas por semanas não se falou em outra coisa.
Apesar de todos esses exemplos, a política em todos os níveis tem uma relação muito complicada com a moda. Ainda existe preconceito quando alguém fala que gosta do assunto e em muitos casos, fica parecendo que no cérebro de quem se interessa por roupas e por estilo em geral não há espaço para mais nada. Mulheres na política, várias vezes se cercam de cuidados para não parecerem que estão interessadas demais naquilo que vestem, sob o risco de serem vistas como fúteis. É uma hipocrisia sem tamanho, já que se vestir é uma das principais maneiras de autoexpressão.
Nas passarelas e em atos da “vida real” como esses últimos exemplos aí em cima, a moda pode ser lida como uma ferramenta de afirmação, de protesto, de instigação e principalmente, de comunicação. Apesar de ainda ser tida por muitos como tema supérfluo e ainda muito ligado ao universo feminino, é urgente pensar no estilo como algo capaz de comunicar mensagens – seja qual for o seu gênero. Seja você a pessoa que usa jeans e camiseta branca diariamente ou quem prefere estar sempre alinhadíssimo, com roupas que traduzam toda a sua elegância. Não importa. Suas escolhas na hora de se vestir e casos essas escolhas comunicam quem você é e qual a sua intenção por trás das roupas.