Ademara, Dora Figueiredo: como quem trabalha na internet lida com estresse

De séries de humor a terapia: influenciadoras contam como cuidam da cabeça em meio ao caos (Foto: Reprodução/Instagram)
De séries de humor a terapia: influenciadoras contam como cuidam da cabeça em meio ao caos (Foto: Reprodução/Instagram)

Por Denise de Almeida

Você já se sentiu cansado das redes sociais? Antes tido como válvula de escape para a rotina do cotidiano, o hábito de ver e ser visto nas redes virou praticamente a única forma de ter contato com um número maior de pessoas durante o isolamento social. Mas, após um ano de pandemia, cada vez mais pessoas contam estarem exaustas de tanto rolar o feed.

Para minimizar esse desconforto, a principal recomendação é diminuir e até evitar o uso de redes sociais, em favor da sua saúde mental. Quem ganha a vida com redes sociais, no entanto, não tem escapatória: precisa estar conectado para ser relevante e alcançar mais pessoas. Então, como quem trabalha com isso tem feito para não surtar?

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A reportagem do Yahoo! ouviu três grandes criadoras de conteúdo para entender como este grupo tem lidado com o dilema: Ademara Barros (@ademaravilha), Mariana Torquato (@marianatorquato) e Dora Figueiredo (@dorafigueiredo).

Terapia online

Poder ter um acompanhamento psicológico ou psiquiátrico tem feito toda a diferença na pandemia, contam as influenciadoras. "Nunca em minha vida valorizei tanto a terapia", revela Ademara, aos risos. “Às vezes tenho pouco a dizer, mas saber que tem uma escuta profissional acompanhando meus processos já é um alívio para os desesperos cotidianos", desabafa.

Dora também tem apostado em muita terapia. "Tenho acompanhamento com psiquiatra, com psicólogo, tudo que posso".

Séries, músicas e filmes para relaxar

Mariana conta que busca diversão vendo séries, mas não de qualquer tipo. "Estou começando a assistir a umas séries que são mais tranquilinhas, de humor. Tento dar uma relaxada no cérebro. Porque se a gente fica o tempo todo nas redes sociais, fica uma loucura. No Brasil, a cada dia, a cada notícia é um 7 a 1. Está muito difícil para manter a saúde mental nesse período”.

Nunca em minha vida valorizei tanto a terapia, revela Ademara, aos risos

Ademara revela que tem focado em conhecer muitos artistas novos, de diferentes segmentos. "Não é novidade que a arte salva quando estamos em crise. Muita música, filme... fico horas procurando referências de humor também pro meu trabalho e estudar acaba me afastando um pouco dessa realidade solitária".

Dora também escolhe a arte como refúgio para o caos. "Tem momentos para me desligar, ver série, ver filme, tentar pensar no futuro, em coisas boas".

Exercícios em casa

Outra estratégia de Dora para lidar com toda a ansiedade que a situação de pandemia trouxe é fazer atividades físicas dentro de casa, para garantir aquela endorfina amiga. "Faço exercício em casa desde o começo da pandemia, e está me ajudando bastante”.

Consumo de notícias

As três criadoras de conteúdo concordam que tem sido angustiante acompanhar as notícias nas redes sociais. A estratégia que Dora Figueiredo adotou é controlar o período dedicado a se informar. "Tento evitar ao máximo ficar muito tempo vendo notícias sobre a pandemia, porque isso me faz mal. Vejo o que preciso ver, aí paro e vou viver o meu mundinho. Tento controlar mais o que chega até mim”.

Tô aqui tentando fazer as pessoas terem coisas boas na internet também", conta Mariana

Já Ademara, que é atriz e jornalista, conta que não consegue deixar de acompanhar as notícias. "Escuto podcasts toda manhã para saber o quanto avançamos ou não. Infelizmente, a maioria das notícias são frustrantes, mas acho importante estar atenta até mesmo porque passa pela cabeça de todo mundo sair, afrouxar, fazer algo novo pra não enlouquecer. Acho que acompanhar a real situação de tudo me ajuda a segurar a barra”.

Mariana Torquato também desacelerou o consumo de notícias sobre a pandemia. “Acho que as notícias são angustiantes sim, são notícias pesadas. Lembro que, no começo, eu ficava direto vendo os números da covid crescendo, mas hoje em dia eu não consigo mais olhar”, desabafa. "Está começando a haver uma naturalização do número de mortes, mas para mim isso nunca vai ser natural, sabe?”

Menos redes sociais

Apesar do trabalho delas ser alimentar redes sociais, Ademara, Dora e Mariana concordam que ficar muito tempo nas redes sociais deixa qualquer um na bad e que há dias em que a vontade é nem entrar nestes apps.

"Tem dias em que não faço nem stories, porque simplesmente não consigo, não tenho força, não tenho vontade. E existe toda a questão, para o criador de conteúdo, do algoritmo, do estar sempre postando, de manter relevância. Mas tem momentos na vida em que não dá. Ao mesmo tempo em que eu sou uma influenciadora, sou uma estudante, uma mestranda fazendo a sua tese, e, ainda, uma pessoa que está morando longe da sua família no meio da loucura da pandemia", explica Mariana.

Você consegue ver uma live do Átila e ficar bem? Então beleza. Você não consegue? Não veja", Dora Figueiredo

Ademara conta que entende que o trabalho dela, voltado para o humor, funciona como um escape da realidade para muita gente, mas que também está aprendendo a respeitar a vontade de não aparecer nas redes vez ou outra.

Por conta da experiência com teatro, ela conta que consegue lidar um pouco melhor com o trabalho nas redes. “Na maioria das vezes ignoro minhas angústias pra aparecer e trazer algum humor pro dia da galera, porque no teatro sempre foi assim. Às vezes chegamos no ensaio de coração partido, com um parente doente, mas sempre jogamos tudo pra cima pra manter a arte. Ainda assim, existem dias impossíveis. Dias em que só quero parar tudo e ficar de olhos fechados. Nesses momentos, penso 'mas vou ficar sem stories, já faz quase 24h do último' e é angustiante, mas quando me permito refletir diante disso lembro que tenho o direito de sentir", diz.

Estratégias para você não surtar na pandemia

As criadoras de conteúdo apontam recomendações para quem, diferentemente delas, não trabalha com internet poder ter uma saúde mental melhor:

Dora Figueiredo

"O que eu recomendo para não surtar é você descobrir o seu limite, descobrir até onde que você aguenta de informação. Você consegue ver uma live do Átila (Átila Iamarino, biólogo e doutor em virologia) e ficar bem? Você consegue ver 20 matérias por dia sobre covid e ficar bem? Então beleza. Mas se você não consegue, não veja. Se cuide da forma que você acha que é o melhor, que você consegue. Porque é isso que dá pra gente fazer. E tenta se divertir nas redes sociais, tenta também ter esse lado bom"

Mariana Torquato

"Ficaria bem longe das notícias, tentaria ficar um pouquinho longe do Twitter, do Instagram, dessa coisa toda, para viver mais o momento e agradecer mais as pessoas que estão perto de você. Sei que parece super clichê, mas a internet tem um gatilho de ansiedade muito grande. E se você não cria conteúdo para internet, se você só consome conteúdo na internet você não tem obrigação nenhuma de estar ali. Então não esteja, sabe? Para tudo, vai ler um livro gostoso, vai assistir a uma série gostosa, engraçadinha. A gente precisa ter um pouco de relaxamento no nosso dia a dia. Acho que a internet, infelizmente, nesse momento está cada dia mais longe de fornecer o relaxamento, mas tô aqui tentando fazer as pessoas terem coisas boas na internet também".

Ademara Barros

Muita música e performance dentro de casa, acho que não tem nada que me promova mais produção de serotonina haha. Sair é sempre um ritual que a gente faz pra estar em coletivo, né? A gente se arruma, se perfuma, dança em conjunto. Fazer tudo isso em casa, na frente do espelho, me traz felicidade também. Acho importante ressaltar que a gente pode se dar um tempo também. Parar, ver um filme, meditar, rever as coisas. Essa paralisação de metas também pode se tornar uma oportunidade de reavaliar nossos objetivos, fazer novos planos, escrever um diário. Se dê o direito de pensar, reconsiderar, se olhar. O foco é conseguir chegar em 2022, então que cheguemos lá com tudo preparadinho pra esgotar cada possibilidade que a vida oferecer".