A maior vítima de "Travessia" é Tonho, filho de Brisa e Ari, e nós provamos o por quê
Já ficou repetitivo falar que Gloria Perez não tem agradado muito com "Travessia". Além de uma escalação polêmica de elenco e furos no roteiro que confundem os telespectadores, há espaços na história que deixam a desejar, como a dificuldade de Brisa (Lucy Alves), a protagonista, em usar a tecnologia para fazer coisas simples.
Vale lembrar que a maranhense foi presa após ser vítima de fake news e, mesmo que use as redes sociais para mostrar suas danças, ela não conseguia entrar em contato com a família e amigos.
Mas, o ponto aqui é outro: já reparou que no meio da separação confusa entre Ari (Chay Suede) e Brisa, quem mais sai prejudicado é Tonho (Vicente Alvite), o filho do casal?
Provamos:
Ponto 1: Tonho já sofre desde o Maranhão, quando o pai decide ficar no Rio de Janeiro e até deixa de comparecer no aniversário do menino para ficar com Chiara (Jade Picon) no Rio de Janeiro;
Ponto 2: A mãe de Ari, vivida por Drica Moraes, não gosta muito de Brisa e mostra isso com clareza. Isso faz com que o clima seja bastante pesado na relação, o que pode prejudicar a formação de Tonho, mesmo que sua avó seja doce com ele;
Ponto 3: Quando Brisa vai para a prisão e Guerra (Humberto Martins) descobre a família de Ari, o empresário manda buscar a criança, que cai de paraquedas em uma vida muito diferente da sua e distante de suas raízes;
Ponto 4: Aliás, Ari ter escondido o próprio filho já não é muito bonito, não é? Já falamos aqui sobre a sua covardia quando o assunto é dinheiro;
Ponto 5: Quando Brisa e Ari finalmente se reencontram, eles têm uma noite de amor e, pela manhã, o arquiteto leva Tonho para o apartamento onde está a mãe. A questão é que Brisa aproveita uma saída do ex e leva a criança para a casa de uma amiga. Helô (Giovanna Antonelli) acaba dando a letra: é rapto!;
Ponto 6: A mãe resolve pedir dinheiro emprestado e foge para o Maranhão com o menino, deixando Ari furioso;
Ponto 7: Ari acaba achando os dois e consegue a guarda provisória de Tonho. Os protagonistas passam a travar uma batalha judicial pela criança. Guerra ajuda Ari e arcar com os custos financeiros e Brisa não pode mais ver o filho devido decisão judicial;
Ponto 8: Metendo os pés pelas mãos, a maranhense teima e se aproxima do filho novamente. Ela pediu a Dante (Marcos Caruso) que a levasse para ver Tonho, e o professor aceitou. De dentro do carro, Brisa observava Tonho, mas se desesperou quando o filho cai no chão e machuca o joelho. A mãe salta do carro para ajudar o menino e confrontará Dina (Renata Tobelem). Na discussão, ela ligará para sua advogada, Juliana (Tabata Contri), perguntando se não tem o direito de acudir o filho. O problema: Brisa é informada de que pode ser presa! Dina também fará uma ligação, mas para Ari (Chay Suede). Já entendeu, não é?!
É preciso encarar com maturidade
Elencamos aqui alguns pontos de "Travessia" que provam que Tonho é quem mais sofre no folhetim. Mas, claro que não tiramos isso do nada, né? Pode até ser "só uma novela", mas esse é um retrato da realidade. É claro que existe amor e carinho por parte de Brisa e Ari, mas certamente os dois precisam de uma ajudinha. Vamos fazer essa matéria chegar até eles?
O Yahoo conversou com Juliana Franco, pediatra e sócia da Escola da Educação Positiva, que trouxe uma análise sobre como a disputa por Tonho prejudica sua formação.
Y: Do seu ponto de vista, quais os fatos incorretos na história? O que os pais fizeram de errado?
Nesta, como em tantas outras histórias, há muitas situações equivocadas por parte dos pais. É fundamental que a criança se sinta protegida, amparada, que tenha previsibilidade, e a presença ativa dos adultos de referência em sua vida, mas para Tonho, a ausência dos pais deixou lacunas em cada um desses pontos.
As boas intenções de Ari, ao buscar uma condição financeira melhor para a família, logo deram lugar a satisfação de seus interesses pessoais, ao seu deslumbramento, fazendo assim com que substituísse sua presença – valor inestimável para a criança – por presentes, que serviam muito mais para amenizar sua culpa do que para de fato premiar o filho. Essa, aliás, também é uma dinâmica muito comum nos lares em geral: muito presente, pouca presença.
O enredo da novela traz muita confusão por parte de todos os adultos e uma criança perdida no meio de todo esse embaraço - realidade, aliás, presente em muitos lares.
Y: A separação de Brisa e Ari não foi fácil, muito menos a disputa pela guarda do menino. Nesses casos mais confusos, como deve ser decidida a guarda da criança?
A guarda deve ser avaliada de maneira individual em cada situação. Não há uma receita, uma fórmula que atenda a todas as famílias, sendo necessário olhar para as peculiaridades do caso e principalmente, para as necessidades da criança ou adolescente - daí a importância do trabalho do educador parental atuando junto a famílias que vivenciam dinâmicas desafiadoras. A guarda interfere muito mais na vida dos filhos do que na dos pais, por isso é imprescindível que se decida a favor da situação que mais atenda suas perspectivas e necessidades e, em todos os casos, primar pela integridade física e emocional da criança.
Y: Uma criança que vive nesse ambiente pode acumular quais traumas?
Uma dissolução conjugal bem conduzida pode causar menos traumas do que pais vivendo em guerra dentro de casa. Uma das situações mais traumáticas em casos de separação é o abandono afetivo que comumente se dá pela falta de interesse e vinculação dos pais com os filhos.
No caso tratado na novela, os pais estão muito mais interessados em obter a guarda de Tonho para lesar o outro genitor do que para proteger a criança. O pai Ari tem deixado isso muito claro nas cenas relativas ao tema e essa situação é muito comum em casos de separação. É preciso enxergar a perspectiva da criança e do adolescente, que não tomam decisões, mas que sofrem as consequências das escolhas e conduções feitas pelos pais..
Y: Afinal, há solução?
Sim, há solução. A solução está no agir consciente dos pais em relação a todo o processo. Como já dissemos, não existe receita pronta, mas existe o empenho dos adultos em tornar esse momento mais fácil para os filhos começando por compreender que a separação é conjugal e não parental. Para o filho, os pais continuam sendo a sua família, independente de sua situação conjugal.
Assumir seu papel de pais e se empenhar pelo bem-estar dos filhos é o caminho mais seguro para garantir a integridade da criança, e quando não podem fazê-lo sozinhos, é fundamental buscar ajuda, esclarecimento, construir caminhos conscientes e colaborativos.