25 de Julho: Mulheres negras contam como se tornaram a mulher dos seus sonhos
Por JanaĂna Bernardino
O Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha e tambĂ©m de Tereza de Benguela, sĂmbolo de liderança feminina, Ă© um marco. A data celebra a trajetĂłria de luta de lĂderes negras que hĂĄ dĂ©cadas tĂȘm sido invisibilizadas, mas que sĂŁo inspiração para tantas outras.
Apesar de ser comemorado hĂĄ 30 anos, poucas foram as coisas que mudaram, o caminho para a conquista de espaços ainda Ă© longo. No entanto, a exemplo de suas ancestrais, mulheres negras tĂȘm construĂdo linhas de fuga para prosperar e impulsionar um caminho, que foge da lĂłgica do perigo de uma histĂłria Ășnica, como bem destaca a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi.
âQuando eu era pequena, sonhar nunca foi parte do meu cotidiano. Aos 8 anos, algum professor me disse que eu tinha jeito para ser advogada, acho que a partir daquele momento, eu comecei a sonharâ, conta Carolina Pinto, gerente jurĂdica e empresĂĄria no ramo da beleza, em entrevista ao Yahoo.
Carolina cresceu dizendo que queria defender as pessoas e agarrou-se a esse sonho até se tornar advogada. Porém, ao ver como as coisas funcionam no mundo real, percebeu que seria muito mais feliz tendo o seu próprio negócio. Hoje, é uma das donas do salão RAS, especializado em tranças e penteados afros, ao lado de sua sócia e parceira Taynara dos Santos, gestora de Negócios e Inovação.
Ela conta que tornou-se a mulher que ela precisava, uma mulher de coragem, apesar dos obstĂĄculos.
O caminho foi ĂĄrduo. Infelizmente, na sociedade em que vivemos, tudo Ă© mais difĂcil para pessoas negras e perifĂ©ricas. Ă preciso coragem para ser quem Ă©, para enfrentar o mundo e todos os obstĂĄculos necessĂĄrios para chegar onde se quer. Sou uma mulher que cai, levanta e continuaâ.Carolina Pinto, gerente jurĂdica e empresĂĄria
JĂĄ Taynara destaca que Ă© gigante aos olhos de sua criança interior, mas ainda muito pequena diante de todos aqueles que abriram os seus caminhos. âTodos os dias eu louvo meus ancestrais, sĂł peço que continuem me dando a mĂŁo, pois nenhum caminho Ă© trilhado sozinhaâ, destaca.
Em sua infĂąncia, sempre acreditou que os estudos abriram portas e a levariam a alcançar os seus sonhos, o que de fato aconteceu. Apaixonada por CiĂȘncia e QuĂmica, sua carreira começou pelo poder da transformação e Ă© isso que define a sua trajetĂłria.
A Taynara da infĂąncia tem muito orgulho e se sente realizada com a mulher que sou hoje. Desde muito nova eu sempre me vi como uma potĂȘncia, enxergava o poder das minhas escolhas e decisĂ”es, seja em um impacto pequeno ou maiorâ.Taynara dos Santos, gestora de NegĂłcios e Inovação
Carolina e Taynara tambĂ©m falam sobre a relação que tĂȘm com as tranças e ressaltam que nunca foi sĂł sobre estĂ©tica, mas tambĂ©m um processo ancestral e de afeto. "A minha relação com as tranças Ă© um mix de emoçÔes, sempre me lembro dos cuidados do meu pai e da minha madrinha com o meu cabelo. Ă algo ancestral, que foi passando de geração em geraçãoâ, relembra Carolina.
Taynara, por sua vez, relata que as tranças sempre elevaram sua autoestima, mesmo nos anos 1990, quando o cabelo afro era um alvo ainda maior de preconceito. âEu me sentia linda com as tranças e adorava quando alguma tia ou prima trançava os meus cabelos, era um momento de carinho, acima de tudoâ.
Ă esse sentimento que ela e Carolina levam para o salĂŁo RAS e defendem em todos os Ăąmbitos da vida: mulheres negras tĂȘm o direito de sonhar. âQueremos mulheres pretas cada vez mais conscientes do quĂŁo boas sĂŁo e podem ser em tudo aquilo que se propuserem a ser ou fazer. Que sejamos vistas como profissionais, estudantes, inspiraçÔes, modelos, e tudo o que somos no dia a dia, para alĂ©m das datas comemorativasâ, destacam.